Foi dado início à caminhada sinodal, que culminará na reunião dos Bispos no ano de 2023, em Roma. Este processo em que toda a Igreja vive em conjunto, deve fazer com que ela se ponha a escutar o que o Espírito Santo diz, lembrando sempre o que nos recorda o Papa Francisco: “o Sínodo não é um parlamento, o Sínodo não é uma investigação sobre as opiniões”. O Santo Padre propõe que deixemo-nos ser guiados pelo Espírito Santo, pois é Ele que move a Igreja, para que a escuta seja mútua, sempre tendo a clareza de que “o Sínodo é um momento eclesial, e o protagonista do Sínodo é o Espírito Santo. Se não estiver o Espírito, não haverá Sínodo” (Papa Francisco). Assim, além de saber, ouvir com os ouvidos da carne, devemos também ouvir com os ouvidos espirituais aquilo que Deus nos diz a partir do Espírito divino que habita em cada um e cada uma.
Como batizados e batizadas recebemos “a graça do novo nascimento em Deus Pai, por meio do Filho no Espírito Santo” (cf. Catecismo da Igreja, n. 683), e isso torna, diretamente, cada um e cada uma parte integrante desse processo, permitindo-nos buscar um discernimento no Espírito, apresentando as esperanças e desafetos que trazemos nos corações, pondo-nos a escutar também o que o outro tem a apresentar. A capacidade de compreender e entregar-se de todo coração a percorrer este caminho, abandonando os pesos que tornam a caminhada lenta e às vezes até o que causa a recusa e a desistência de caminhar juntos, muitas vezes é algo desafiador. Despir-se das vestes do ódio, egoísmo, ingratidão, medo e outras mazelas que fazem o coração humano se fechar para a graça do amor de Deus; que cegam os olhos e ensurdecem os ouvidos ao que é essencial e que vem de Deus, esse ato de desfazer-se é algo que deve ser praticado diariamente, aumentando nossa capacidade de ser guiados pelo Espírito Santo, vivendo como Igreja Sinodal, em comunhão, abertos à participação e disponíveis à missão de batizados e batizadas.
A escuta da voz de Deus torna-se cada dia mais difícil diante dos barulhos deste mundo, por isso, para viver esse chamado “à unidade, à comunhão, à fraternidade que nasce de nos sentirmos abraçados pelo único amor de Deus” (Papa Francisco), é necessário voltar os ouvidos a esta voz, aguçá-los para a escuta de forma profunda e genuína, sem que os ruídos deste mundo impeçam cada um e cada uma de viver aquilo a que Deus chama, como batizados e batizadas, pois “aquele que pertence a Deus ouve o que Deus diz. Vocês não o ouvem porque não pertencem a Deus” (Jo 8,47).
A escuta se dá a partir da disponibilidade, da entrega, do serviço. Em sua carta de lançamento do Sínodo, o Papa Francisco nos provoca para a reflexão das palavras “comunhão” e “missão” como “expressões teológicas que designam o mistério da Igreja”. Nesse sentido, viver a missão sempre disponíveis e abertos à comunhão é algo que advém da disponibilidade da vida em comunidade, como filhos e filhas que vivem a graça do mistério do amor de Deus que nos é concedido no recebimento do batismo. “Através destas duas palavras, a Igreja contempla e imita a vida da Santíssima Trindade, mistério de comunhão” (Papa Francisco) e ao deixarmo-nos orientar pelo Espírito Santo, saberemos caminhar para este novo rumo que o sínodo nos propõe. “Desde o princípio até à ‘plenitude do tempo’ (cf. Gl 4,4), a missão conjunta do Verbo e do Espírito do Pai permanece oculta, mas está atuante” (cf. Catecismo da Igreja. n. 702). Deixar o Espírito nos conduzir segundo a vontade Daquele que nos envia, é manter a certeza de que acreditamos nas promessas de Cristo, inspirados por este Espírito que nos quer orientar para viver este novo tempo.
“A eclesiologia do povo de Deus sublinha, de fato, a comum dignidade e missão de todos os batizados no exercício da multiforme e ordenada riqueza dos seus carismas, das suas vocações, dos seus ministérios” (Papa Francisco). Viver a unidade com os irmãos e irmãs conduz à “união com Deus Trindade”, que manifesta concretamente o “caminhar juntos”, assumindo o serviço que lhe foi designado no sacramento do batismo. O processo de escuta constituirá uma vivência fraterna em comunidade, onde seremos orientados a partir da necessidade de compreender e construir novos caminhos que conduzam para este novo jeito de ser Igreja sinodal que culmina na disponibilidade de cada dom, de cada vocação, de cada carisma dos batizados e batizadas que compreendem a importância de se colocar a serviço e dar vida a essa Igreja sinodal. Compreendendo que os batizados e batizadas são pilares fundamentais nesse caminhar juntos, o Santo Padre destaca a importância da escuta assídua do povo de Deus, para saber como está sendo vivido esse “caminhar juntos”. Por isso é necessário fazer as seguintes perguntas: como as Igrejas locais estão vivendo este caminho sinodal? A Igreja está, realmente, deixando-se guiar pelo Espírito Santo para viver a missão que Deus designou, segundo o Santo Padre? “O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio”. (Papa Francisco).
Dom Fernando Barbosa dos Santos, CM
Bispo da Diocese de Palmares/PE
Foto: CNBB