Palmares, 19 de abril de 2024

Igreja em saída

08 de setembro de 2021   .    Visualizações: 1149   .    Palavra do Bispo

“Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho”.

Viver o chamado do Santo Padre, o Papa Francisco, a ir ao encontro daqueles que estão à beira do caminho e necessitam do cuidado samaritano nos impele a avançar no projeto de uma conversão pastoral e missionária de forma que a Igreja chegue a todos os lugares sem nenhuma forma de distinção. O Santo Padre exprime a necessidade e urgência desta conversão, para que os clamores daqueles que têm sede de Deus sejam ouvidos, pois, nós que assumimos o compromisso de anunciadores da Boa Nova, temos o dever de viver este novo tempo.

A Igreja tem, por natureza, o exemplo encarnado do Cristo que sai e vai ao encontro daqueles a quem foi enviado: “Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim” (Mc 1, 38). É muito claro que a missão é uma questão vital para a Igreja, porém, é preciso que seja compreendido o verdadeiro sentido do ser missionário, pois essa missionariedade não se refere a viver de forma fechada uma doutrina que alcança somente os “seus”, criando divisões e construindo muros. Para o Papa Francisco, ser cristão que anuncia e professa a fé, não se limita à ação de tentar impor regras para que o ser humano adote infinitas doutrinas. A dinâmica deve ser outra, dar o testemunho da fé em Jesus Cristo é principalmente estar entre os mais pobres e fragilizados da sociedade, indo ao encontro daqueles que vivem à margem de uma sociedade que exclui e mata. A prática do amor, da solidariedade, da misericórdia, da fraternidade e da doação, traduz a linguagem do mistério de Cristo que se encarna em uma Igreja aberta e disponível a levar “a consolação e o estímulo do amor salvífico de Deus, que opera misericordiosamente em cada pessoa, para além dos seus defeitos e das suas quedas” (EG 43). Esse modelo de Igreja conservadora e “fechada”, que imprime para a sociedade uma visão de um Cristo que só se encontra nos templos a portas fechadas, já não serve mais, não responde às angústias e necessidades de um povo sedento de um Deus próximo, amoroso, fraterno que sempre está junto dos seus filhos.

“Chamou os que ele mesmo quis… Para estarem com ele… E para enviá-los a anunciar…” (Mc 3, 13-15). Como verdadeiros e comprometidos filhos e filhas de Deus, ao sermos batizados, assumimos a tarefa de viver constantemente o anúncio do Evangelho, derrubar os muros que isolam e dividem a humanidade criando uma cultura do egoísmo. Nossa missão é criar pontes e ser uma Igreja profética e sinodal, fazendo com que a mensagem do Evangelho se irradie no meio do povo e chegue a todos os cantos. As Diretrizes Gerais da Igreja no Brasil nos apontam caminhos para ser integralmente uma “Igreja em saída” e desse modo “responder aos desafios de um país que experimenta grandes transformações em todos os âmbitos” (DGAE 2019-2023). É urgente que todos comecem a viver esse processo de conversão, saindo do comodismo e assumindo o seu papel de discípulo missionário. “A Igreja acolhe a convocação do Papa Francisco, e no cumprimento de sua missão, quer colaborar para que encontre um novo rumo para as pessoas e a sociedade” (LS, n. 53). Para lograr esse objetivo, deve-se cada um tomar para si o sentido de pertença, de fazer parte desse ser Igreja. Viver em comunidade e praticar a fé implica participar da vida da Igreja, não deixando a responsabilidade somente para o outro, assumir verdadeiramente esse compromisso. É importante também, destacar que o objetivo, além de “ir”, é estar sempre disposto a acolher aqueles que procuram. Não estou aqui dizendo que se deve esvaziar a igreja “prédio” e fechar as portas, pois esta igreja só tem sentido se tiver povo, se for um local onde todos possam se reunir para estar em comunhão com o Cristo que é o centro de toda comunidade cristã. Do que adianta termos grandes e luxuosos templos se os mesmos estão vazios, enquanto nossos irmãos e irmãs sofrem lá fora, sem ter onde descansar. Se isso acontece é sinal de que estão vazios também os nossos corações, que deveriam estar cheios do amor de Deus, pois Deus não comunga da exclusão, da solidão ou do individualismo. E se estamos sozinhos é porque nossa capacidade de acolher está em falta nas nossas ações. Se dizemos que acolhemos Cristo e negamos este mesmo acolhimento aos mais pobres e fragilizados estamos enganando a nós mesmos, pois este Cristo está mais presente naqueles a quem ignoramos e fingimos não ver. “As Diretrizes se constroem à imagem da Casa. Em seu duplo movimento, a Casa permite o ingresso e a saída. É ao mesmo tempo, lugar de acolhimento e envio. Com isso, ela remete aos dois grandes eixos inspiradores: comunidade e missão”.

Amados irmãos, que as motivações do Papa Francisco nos inspirem a construir e viver esse novo modelo de Igreja, para que o Evangelho de Cristo seja disseminado e seja instrumento de transformação para nós e nossos irmãos, e irmãs que necessitam desse amor divino e fraterno.

 

 

 

Dom Fernando Barbosa dos Santos, CM
Bispo da Diocese de Palmares/PE


Fonte Foto: Paroisse catholique La Résurrection de Brossard

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