Palmares, 26 de dezembro de 2024

Aparições do Ressuscitado

28 de abril de 2021   .    Visualizações: 641   .    Notícias da Diocese

Dom Genival Saraiva de França
Bispo emérito da Diocese de Palmares (PE)

A comunidade cristã vive o Tempo Pascal, que se estende até Pentecostes, como “uma primavera espiritual.” Desde o Domingo da Páscoa, a Liturgia “celebra os diversos modos da presença e manifestação do Senhor ressuscitado na sua Igreja. No segundo domingo da Páscoa, a aparição do Senhor no meio dos seus consagra o ritmo dominical da sua presença no meio da assembleia festiva dos fiéis […] No terceiro domingo, reconhecemos o Senhor na fração do pão. Está presente no meio de nós através dos sinais sacramentais. No quarto domingo o bom Pastor nos manifesta o mistério da presença do Cristo nos pastores de sua Igreja. No quinto domingo a caridade fraterna é vista como manifestação de Jesus ressuscitado […] No sexto domingo Jesus promete o seu Espírito como princípio da vida pascal da Igreja e de todo cristão […] No dia da Ascensão (sétimo domingo), Jesus, antes de subir ao Pai, envia ao mundo suas testemunhas; elas e todo o povo profético manifestarão Jesus Cristo salvador. Em Pentecostes: o Espírito Santo realiza a plenitude da Páscoa de Cristo por meio da Igreja. Impelidos pela força de Jesus e pela fé, os Apóstolos partem para sua missão no mundo.”

São Paulo refere-se ao mistério de Cristo, mistério que “ele manteve escondido desde séculos e por inúmeras gerações e que, agora, acaba de manifestar aos seus santos.” (Cl 1,26) As aparições de Jesus a discípulas, discípulos e apóstolos, “seus santos”, são manifestações do mistério de sua Ressurreição. Jesus os torna testemunhas privilegiadas da Ressurreição e, nessa condição, eles “partem para sua missão no mundo.” Nas diversas manifestações de Jesus ressuscitado evidenciam-se, de um lado, os limites humanos e espirituais desses seus seguidores mais próximos e, de outro, as propriedades do corpo ressuscitado. Entre os discípulos e Jesus ressuscitado, a diferença de condição é abismal, a distância de natureza é insondável. Obviamente, essa realidade já se manifestava no anúncio do Reino, por exemplo, quando Jesus fez milagres, caminhou sobre as águas. A dimensão desse mistério, porém, adquiriu sua exata medida nas aparições de Jesus Ressuscitado, demonstrando, assim, que se tratava da mesma pessoa. Jesus aparece a eles em dias, lugares e circunstâncias diferentes e, em nenhum desses momentos, é reconhecido. Na expressão de um autor, Jesus aparece “em situações inusitadas”. Com efeito, aparece às mulheres, “na madrugada do primeiro dia após o sábado”, à tarde, aos discípulos de Emaús e, ao “anoitecer daquele dia”, aos apóstolos, onde se encontravam, com portas fechadas, “por medo dos judeus”. Depois, “Jesus apareceu de novo aos discípulos, à beira do mar de Tiberíades.” Conforme o autor, Jesus aparece “em figuras igualmente inusitadas.” Figura de “jardineiro”, de “andarilho”, de “fantasma”, de “pedinte” de comida. “Tudo isso para nos mostrar que ele se revela ressuscitado no cotidiano de nossa vida, no rosto de pessoas simples, basta termos a sensibilidade para percebê-lo”. Embora todas tenham essa natureza, a aparição a Tomé é emblemática, particularmente, porque “serve de exemplo para outros tipos de situações.” Nesse sentido, considere-se a palavra que lhe dirigiu Jesus: – “Acreditaste porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto”. Na verdade, a posição de Tomé revela, primeiramente, uma incredulidade no testemunho dos apóstolos – “Vimos o Senhor”! Por isso, “a fraqueza de Tomé está no querer ser o critério individual para crer: ‘Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei.’” (Jo 20,25) Um autor lê, dessa maneira, a atitude de Tomé: “demonstra uma incredulidade honesta, mas ao mesmo tempo prepara-se para assumir uma fé lúcida”.

A catequese da Igreja sempre ensinou que a virtude teologal da fé, primeiramente, é fé em Jesus ressuscitado, é o núcleo básico do anúncio da Boa Nova. “E se Cristo não ressuscitou, vazia é nossa pregação, e vazia também é a fé que vocês têm.” (1Cor 15,14). A fé é uma experiência herdada da comunidade cristã. A doutrina de São Paulo fundamenta essa verdade: “Portanto, a fé vem daquilo que ouvimos, e o que ouvimos vem por meio da palavra de Cristo.” (Rm 10,17) O Tempo Pascal tem uma riqueza espiritual muito especial na vivência do mistério de Cristo. “Celebrar a eucaristia neste período da Páscoa significa particularmente: reconhecer todas as manifestações de Jesus ressuscitado na sua Igreja; tornar-nos instrumento destas manifestações como membros do povo sacerdotal: dar graças ao Pai pela presença contínua de Jesus ressuscitado entre nós.”

As aparições do Ressuscitado continuam acontecendo, em “situações inusitadas” e “em figuras igualmente inusitadas” porque a face do povo e o retrato do mundo mantêm expostas as marcas dos pregos nas mãos e no lado do Crucificado, nesses tempos complicados de pandemia da Covid-19


Fonte e Foto: CNBB NE2

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