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A catequese do Papa Francisco, na Audiência Geral desta quarta-feira (10/03), foi dedicada à sua recente viagem apostólica ao Iraque de 5 a 8 deste mês.
Nos últimos dias, o Senhor concedeu-me visitar o Iraque, realizando um projeto de São João Paulo II. Nunca antes um Papa tinha estado na terra de Abraão; a Providência quis que isto acontecesse agora, como sinal de esperança, após anos de guerra e terrorismo e durante uma dura pandemia.
“Depois desta visita, a minha alma está cheia de gratidão. Gratidão a Deus e a todos aqueles que a tornaram possível: ao Presidente da República e ao Governo do Iraque; aos Patriarcas e Bispos do país, com todos os ministros e fiéis das respectivas Igrejas; às Autoridades religiosas, começando pelo Grão-Aiatolá Al-Sistani, com quem tive um encontro inesquecível na sua residência em Najaf”, disse ainda Francisco.
“Experimentei o forte sentido penitencial desta peregrinação: não podia aproximar-me daquele povo martirizado, daquela Igreja mártir, sem carregar, em nome da Igreja católica, a cruz que eles carregam há anos; uma grande cruz, como aquela colocada na entrada de Qaraqosh”, frisou o Papa, afirmando que sentiu isso de forma particular quando viu as feridas ainda abertas da destruição, e ainda mais quando conheceu e ouviu “as testemunhas que sobreviveram à violência, à perseguição e ao exílio”. “E ao mesmo tempo vi ao meu redor a alegria de acolher o mensageiro de Cristo; vi a esperança de se abrir a um horizonte de paz e fraternidade, resumida nas palavras de Jesus, que foram o lema da visita: «Sois todos irmãos». Vi esta esperança no discurso do Presidente da República, encontrei-a em muitas saudações e testemunhos, nas canções e nos gestos das pessoas. Eu a li nos rostos luminosos dos jovens e no olhar vivaz dos idosos. Pessoas que esperavam o Papa há cinco horas, de pé, até mesmo mulheres com crianças no colo. Esperavam! Em seus olhos havia esperança”. A seguir, acrescentou:
O povo iraquiano tem o direito de viver em paz, tem o direito de voltar a encontrar a dignidade que lhe pertence. As suas raízes religiosas e culturais são milenares: a Mesopotâmia é berço de civilização; na história, Bagdá foi uma cidade de importância primordial, que durante séculos albergou a biblioteca mais rica do mundo. E o que a destruiu? A guerra.
A resposta é a fraternidade. Eis o desafio para o Iraque, mas não só: é o desafio para muitas regiões de conflito e, definitivamente, para o mundo inteiro, a fraternidade. Seremos capazes de criar fraternidade entre nós, de criar uma cultura de irmãos? Ou continuaremos com a lógica iniciada por Caim: a guerra. Irmandade, fraternidade.
“Por isso, cristãos e muçulmanos, nos encontramos e rezamos com representantes de outras religiões em Ur, onde Abraão recebeu o chamado de Deus há cerca de quatro mil anos. Abraão é pai na fé porque ouviu a voz de Deus que lhe prometia uma descendência, deixou tudo e partiu”, disse ainda o Papa. “Deus é fiel às suas promessas e ainda hoje guia os nossos passos de paz, orienta os passos daqueles que caminham na Terra com o olhar voltado para o Céu. E em Ur, enquanto estávamos juntos sob aquele céu luminoso, o mesmo céu em que o nosso pai Abraão nos viu, sua descendência, no nosso coração parecia ressoar esta frase: Sois todos irmãos.”
Uma mensagem de fraternidade emanou do encontro eclesial na Catedral sírio-católica de Bagdá, onde em 2010 quarenta e oito pessoas, incluindo dois sacerdotes, foram assassinadas durante a celebração da Missa. A Igreja no Iraque é uma Igreja mártir e naquele templo, que traz inscrita na pedra a memória daqueles mártires, ressoou a alegria do encontro: o meu entusiasmo por estar no meio deles fundia-se com a sua alegria de ter consigo o Papa.
“Transmitimos uma mensagem de fraternidade de Mossul e de Qaraqosh, na margem do rio Tigre, próximo das ruínas da antiga Nínive”, recordou ainda Francisco. “A ocupação do Estado islâmico provocou a fuga de milhares de habitantes, entre os quais muitos cristãos de diferentes Confissões e de outras minorias perseguidas, especialmente os yazidis. A antiga identidade daquelas cidades foi destruída. Agora, com grande dificuldade, procura-se reconstruir; os muçulmanos convidam os cristãos a regressar e, juntos, restauram igrejas e mesquitas. Continuemos, por favor, a rezar por estes nossos irmãos e irmãs tão provados, para que tenham a força de recomeçar. E pensando nos numerosos emigrantes iraquianos, gostaria de lhes dizer: vocês deixaram tudo, como Abraão; como ele, mantende a fé e a esperança, e sejam tecelões de amizade e de fraternidade onde quer que estejam.”
Uma mensagem de fraternidade emanou das duas Celebrações eucarísticas: a de Bagdá, em rito caldeu, e a de Erbil, a cidade onde fui recebido pelo Presidente da região e pelo seu Primeiro-Ministro, pelas Autoridades e pelo povo. A esperança de Abraão e da sua descendência realizou-se no mistério que celebramos em Jesus, o Filho que Deus Pai não poupou, mas ofereceu para a salvação de todos: pela sua morte e ressurreição, Ele abriu-nos a passagem para a terra prometida, para uma nova vida onde as lágrimas são enxugadas, as feridas curadas, os irmãos reconciliados.
“Queridos irmãos e irmãs, louvemos a Deus por esta visita histórica e continuemos a rezar por aquela Terra e pelo Oriente Médio. No Iraque, apesar do fragor da destruição e das armas, as palmeiras, símbolo do país e da sua esperança, continuaram crescendo e dando frutos. Assim é com a fraternidade: não faz barulho, mas é fecunda e nos faz crescer. Deus, que é paz, conceda um futuro de fraternidade ao Iraque, ao Oriente Médio e ao mundo inteiro!”, concluiu.