No primeiro Angelus dominical de agosto, Francisco nos exorta a seguir a lógica de Deus, que nos leva a “cuidar do outro”. O convite é de aproximar-se do Sacramento da Eucaristia com confiança no Senhor e sem esquecer nossos irmãos e irmãs que estão privados “do que é necessário”.
Silvonei José – Vatican News
“Compaixão” pelas necessidades dos outros, confiança no amor “providente” do Pai e “corajosa” partilha. No Angelus de um domingo muito quente de agosto na Praça São Pedro, com a presença de muitos fiéis, entre os quais um grupo de religiosas brasileiras com bandeiras do Brasil, o Papa Francisco recorda as atitudes de Jesus com a multidão da passagem evangélica deste domingo, dedicada ao “prodígio da multiplicação dos pães”, e exorta a seguir a lógica de Deus, que nos leva a “cuidar do outro”. O convite é a “fraternidade”, aproximando-se do Sacramento da Eucaristia sem esquecer os irmãos e irmãs “privados do necessário” e usando precisamente a “compaixão” e a “ternura” de Jesus: Ele – para aqueles que o seguem e que, “para estar com ele”, se esqueceram de fazer provisões – não demonstrou “sentimentalismo” mas sim, explica, a manifestação “concreta” do amor que “assume” as necessidades das pessoas.
O Papa recordou que a cena descrita pelo evangelista Mateus se desenvolve em um lugar deserto onde Jesus, tendo se retirado ali com seus discípulos, é alcançado por pessoas que querem “ouvi-lo e serem curados”: “suas palavras e seus gestos – acrescenta – curam e dão esperança”.
Ao entardecer, a multidão ainda estão lá, e os discípulos, homens práticos, convidam Jesus a se despedir deles para que possam ir procurar o que comer. Mas Ele responde: “Vocês mesmos dêem-lhes de comer”. Imaginemos os rostos dos discípulos! Jesus sabe muito bem o que está prestes a fazer, mas quer mudar a atitude deles: não diz “deixem que se arranjem”, mas “o que a Providência nos oferece para compartilhar? Duas atitudes opostas. E Jesus quer levá-los à segunda atitude, porque na primeira proposta, é uma proposta de um homem prático, mas não generoso: “deixe-os ir, que vão procurar, que se arranjem. E Jesus pensa de outra forma.
Jesus, através desta situação, quer educar seus amigos de ontem e de hoje para a lógica de Deus: a lógica de cuidar do outro.
E qual é a lógica de Deus que vemos aqui? A lógica de cuidar do outro. A lógica de não lavar as mãos, a lógica de não olhar para o outro lado. Não. A lógica de cuidar do outro. Eles que se arranjem não faz parte do vocabulário cristão.
Jesus toma os cinco pães e os dois peixes “em suas mãos”, “levanta os olhos para o céu, recita a bênção e começa a dividir e dá as porções aos discípulos para distribuir”: esses pães e esses peixes – recorda Francisco – não terminam, são suficientes e sobram para milhares de pessoas”.
“Com este gesto Jesus manifesta seu poder, não de forma espetacular, mas como sinal de caridade, da generosidade de Deus Pai para com seus filhos cansados e necessitados. Ele é imerso na vida de seu povo, ele compreende seu cansaço e suas limitações, mas não deixa que ninguém se perca ou seja excluído: nutre com sua Palavra e dá alimento abundante para o sustento”.
No relato evangélico o Pontífice observa a evidente referência à Eucaristia, “especialmente onde ele descreve a bênção, o partir do pão, a entrega aos discípulos, a distribuição ao povo”.
“Deve-se notar quão estreita é a ligação entre o pão eucarístico, alimento para a vida eterna, e o pão cotidiano, necessário para a vida terrena. Antes de oferecer-se como Pão da salvação, Jesus cuida do alimento para aqueles que O seguem e que, para estar com Ele, se esqueceram de fazer provisões. Às vezes se contrapõem espírito e a matéria, mas na realidade o espiritualismo, como o materialismo, é alheio à Bíblia. Não é uma linguagem da Bíblia”.
A compaixão, a ternura que Jesus demonstrou para com a multidão – continuou o Papa – não é sentimentalismo, mas a manifestação concreta do amor que cuida das necessidades das pessoas. Somos chamados a nos aproximar da mesa eucarística com estas mesmas atitudes de Jesus: compaixão pelas necessidades dos outros…esta palavra que se repete no Evangelho quando Jesus vê um problema, uma doença ou estas pessoas sem alimento… “Ele teve compaixão”. A compaixão não é um sentimento puramente material; a verdadeira compaixão é partire con, assumir as dores dos outros. Talvez nos faça bem – disse Francisco – nos perguntar hoje: tenho compaixão quando leio as notícias de guerras, fome, pandemias? Tantas coisas… Tenho compaixão daquelas pessoas? Tenho compaixão das pessoas que estão próximas de mim? Sou capaz de sofrer com eles ou dirijo o meu olhar para o outro lado, ou digo “que eles se arranjem”? Não se esqueça desta palavra “compaixão”, que é confiança no amor providente do Pai e significa corajosa partilha.
Antes das saudações, Francisco invocou Maria Santíssima para que “nos ajude a percorrer o caminho” que nos foi indicado pelo Senhor.
“É o caminho da fraternidade, que é essencial para enfrentar as pobrezas e os sofrimento deste mundo, e que nos projeta para além do próprio mundo, especialmente neste grave momento, porque é um caminho que começa com Deus e retorna a Deus”.