Publicamos abaixo, a íntegra da homilia proferida por Dom Dulcêncio Fontes de Matos, bispo de Campina Grande (PE), na missa de 7º dia em sufrágio da alma de Dom Henrique Soares da Costa, 3º bispo diocesano da cidade de Palmares (PE), realizada no dia 24 de julho do ano da graça do Senhor de 2020, às 10h, na Catedral Diocesana de Nossa Senhora da Conceição dos Montes.
A cerimônia foi presidida por Dom Genival Saraiva de França, Bispo Emérito de Palmares e predecessor de Dom Henrique, concelebrada pelos bispos Dom José Ruy, Bispo de Caruaru; Dom Bernadino Marchió, Bispo Emérito de Caruaru; Dom Magnus Henrique Lopes, Bispo de Salgueiro; e Dom Dulcênio Fontes de Matos, Bispo de Campina Grande (PB).
HOMILIA PARA A MISSA DE SÉTIMO DIA DO DOM HENRIQUE SOARES DA COSTA
(Catedral Diocesana de Palmares, 24.07.2020)
A recompensa de um pastor
Ao celebrarmos, com esta Santa Missa, o sufrágio de sétimo dia do nosso irmão, Dom Henrique Soares da Costa, terceiro Bispo de Palmares, desejo refletir como Deus cumula aos que escolheu para o serviço do seu Santo Povo de meios para executarmos a nossa missão, continuações da de Cristo, e como nos promete uma recompensa incomensurável.
Primeiramente, trago à lume o lema que norteou toda a vida episcopal de Dom Henrique. Extraída do Sermão sobre as ovelhas, de Santo Agostinho de Hipona, “Apascentar em Cristo” foi o grande mote, não apenas do seu múnus de prelado, como uma prática que tomou para si desde a sua ordenação sacerdotal, acontecida em quinze de agosto de mil novecentos e noventa e dois. Caros irmãos, toda a vida ministerial do nosso saudoso Bispo foi um esforço para trazer às ovelhas desgarradas ao único rebanho do Senhor, que é a Sua Santa Igreja Católica. Resgatando vidas pela força que brota do Evangelho com as suas sempre convenientes palavras de vida e de salvação, o intrépido Dom Henrique fez justiça à sua escolha, não apenas no esforço de ser um bom Bispo (o que não o fez por vaidade ou autopromoção), mas para fazer boas as almas que lhe foram confiadas ao cuidado pastoral.
Sim, o Bispo Henrique teve diante de si o que o nosso irmão no episcopado, Agostinho de Hipona, do distante século IV, aconselhava ao seu clero: “Esforcemo-nos, pois, irmãos, não apenas para sermos bons, mas ainda para convivermos bem com os homens. Não procuremos apenas ter boa consciência, mas, na medida em que permitirem nossas limitações, vigilantes sobre a fragilidade humana, empenhemo-nos em nada fazer que levante dúvidas para o irmão mais fraco. Não aconteça que, comendo ervas boas e bebendo águas límpidas, espezinhemos as pastagens de Deus e as ovelhas fracas comam a erva pisada e bebam a água turva” (Sermo 47,14).
A páscoa de Dom Henrique tocou a tantos porque a tantos corações, em vida, tocou com o dedo de Deus, na força do Espírito Santo. Buscou, tenazmente, acompanhar com o púlpito da sua vida e do seu procedimento a transparência da Palavra que, habilmente, anunciava. Provado nos últimos dias, reluziu ainda mais a chama de sua esperança. A beleza do Céu que, eloquentemente, pregou, criando nos seus ouvintes grande desejo do Alto, pela misericórdia de Deus, é chamado à posse. E porque “a vida dos justos está nas mãos de Deus” (Sb 3,1), tal como nos confirmou a Primeira Leitura, esperamos, porque cremos no infinito amor do Senhor, que ele está em paz porque a sua esperança, que sempre foi o Cristo, em Quem apascentou, incutiu-lhe a imortalidade.
A escola do sofrimento que marcou os últimos dias de vida daquele a quem sufragamos foi instrumento de Deus para a conversão de tantos. Enquanto ele era provado na sua brevíssima e feroz enfermidade, eu meditava: “Como o meu irmão está a sofrer! Um sofrimento espiritual antes de tudo porque, na Terapia Intensiva, estava privado de receber a Eucaristia, Pão de Imortalidade, Viático de Eternidade, que fiel, cotidiana e piedosamente tantas vezes celebrou”. Porém, ao mesmo tempo, as minhas inquietações eram suplantadas pela certeza de que Dom Henrique, no silêncio da sua cruz pessoal, unia-se, grandemente, à única Cruz redentora do Senhor, repetida no Calvário incruento do Altar. E o breviário que utilizava não era outro senão a recordação da fidelidade do Senhor, que nunca nos abandona. Quantas intenções devem ter brotado do seu coração na sua convalescença? Quantas satisfações ao Coração de Jesus, Padroeiro desta Diocese, que recebe tantos opróbrios da humanidade? Quem sabe até as satisfações daqueles cujo exemplo Dom Henrique tocou com o seu zelo e o seu amor para com Deus e à Sua Igreja, e que agora levam uma vida nova (cf. Rm 6,4), segundo o Espírito, como alude a Segunda Leitura.
Que prêmio, então, está reservado para quem na terra foi pontífice, ponte entre Deus e os homens? Se tantas vezes Dom Henrique apontou o Cristo, “Caminho, Verdade e Vida” (Jo 14,6), não foi por que, em sua trajetória, nunca desfitou o olhar deste mesmo Senhor (cf. Hb 12,2), a fim de que também fizessem uma experiência de fé e amor com Deus? Creio que, não obstante as nossas fraquezas pessoais ou as nossas debilidades no exercício do múnus por nós exercido, o Senhor cumpre o que promete. Recordo-me agora do belo significa da mitra. Quando da nossa sagração, ao nos ser imposta sobre a cabeça, a Igreja ordena-nos: “Recebe a mitra e brilhe para ti o esplendor da santidade, para que, quando vier o Príncipe dos pastores, mereças receber a imarcescível coroa da glória”. Esta promessa de Deus de prados eternos aos pastores que são dóceis ovelhas está sempre diante do Bispo pelo significado da mitra: coroa de santidade e de justiça (2Tm 4,8), que, pelo fiel anúncio da Palavra de Deus e pela assistência contínua do Espírito Santo, está reservada aos que portam o doce fardo da Igreja do Senhor. Não nos esqueçamos: o Bispo deve ser imagem de Cristo, o Santo de Deus, de Quem emana a santidade!
Que, transportado aos ombros do Bom Pastor, Dom Henrique alcance as campinas eternas que tão ansiosamente esperou e tão ardentemente apontou. Amém.
Fonte: Núcleo Diocesano da Pascom