Palmares, 28 de março de 2024

Uma âncora chamada esperança

17 de junho de 2019   .    Visualizações: 562   .    Palavra do Bispo

Na Epístola aos Hebreus há um texto de grande beleza e profundidade: “A esperança é para nós qual âncora da alma, segura e firme, penetrando para além do véu, onde Jesus entrou por nós, como precursor…” (6,19s).

Vivemos num mundo esmigalhado, totalmente espatifado em seus valores; um mundo no qual já não se sabe mais por que e para que se vive. Nossa civilização ocidental renunciou colocar-se as grandes questões da existência; contenta-se, agora, simplesmente em sobreviver, ir empurrando a vida com a barriga… É realmente impressionante constatar a falta de um ideal mais alto no horizonte existencial das pessoas: vive-se do provisório, do aqui e do agora…

Ora, o ser humano não foi criado para viver assim, do provisório, simplesmente do palpável, do mensurável, do óbvio ululante. Santo Agostinho, no século V, já exprimia a sede de valores mais profundos que o homem traz em si, com aquelas célebres palavras de suas Confissões: “Tu nos fizeste para Ti, e o nosso coração andará inquieto até que não repouse em Ti”. Mas, não temos construído o mundo e a vida de modo que nosso coração repouse em Deus e, por isso, cansamo-nos em mil preocupaçõezinhas, em mil pequenos interesses, em mil paixões… Sentimos o barco da nossa vida como que perdido neste imenso mar chamado mundo; e lá vamos nós, ao sabor das marés, sem saber bem em que porto vamos atracar, em que praia da existência vamos repousar nosso coração cansado…

Filhos deste tempo de contrastes e mil caminhos, nós, cristãos, somos convidados a viver de esperança. Mas, atenção: não a esperança segundo o mundo: “Eu espero que tal coisa aconteça…” Esperar, para um cristão, significa esperar Deus de Deus, esperar com certeza invencível na sua fidelidade, na sua presença… Esperar é viver na certeza do Seu amor que conduzirá a bom termo nossa existência e o caminho do mundo! Mas, isso não é alienação? Não seria uma ilusão maluca e vazia, feita somente para nos dar um ilusório conforto? Não! Nós cremos e sabemos que o Senhor Jesus morreu e ressuscitou por nós; sabemos que nossa existência – e toda existência humana – caminha para Ele. Aqui entra a afirmação da Carta aos Hebreus: “A esperança é para nós qual âncora da alma, segura e firme, penetrando para além do véu, onde Jesus entrou por nós, como precursor…” (6,19s).

Estamos atravessando o mar da vida. Noite, ventos, temores – eis nossos medos, eis o que nos ameaça… Humanamente, os barcos procuram segurança jogando a âncora para o fundo do mar, colocando-se a salvo dos perigos. Os cristãos não jogam a âncora do barco de sua vida para baixo, para o fundo do mar deste mundo: eles não esperam no poder, no dinheiro, na saúde, nos muitos amigos, na realização de pequenos e mesquinhos prazeres…

Não! Não está aqui a rocha na qual podemos ancorar nosso barquinho! Os cristãos jogam a âncora da vida para cima – isto mesmo: para cima! -, para os profundos Céus, onde Jesus ressuscitado e Senhor Se encontra. Ele é a Rocha na qual nossa âncora se segura e prende, impedindo que o barco de nossa vida fique à toa, à deriva! Colocando toda nossa esperança em Cristo, atracados Nele, estamos seguros! É verdade que não O vemos: a âncora tem de penetrar “para além do véu”, para aquelas coisas que não podemos ver, a não ser na fé – “A fé é garantia antecipada do que se espera, a prova de realidades que não se veem” (Hb 11,1).

Dom Henrique Soares da Costa

Bispo de Palmares

Fonte: https://visaocristadomhenrique.blogspot.com/2019/06/uma-ancora-chamada-esperanca.html?m=1