Houve um tempo em que eu não estava presente, e Tu me criaste.
Eu não tinha orado, e Tu, Tu me fizeste.
Eu não tinha ainda vindo à luz e, no entanto, viste-me.
Eu não tinha aparecido e, no entanto, tiveste piedade de mim.
Eu não Te tinha invocado e, no entanto, tomaste-me ao Teu cuidado.
Eu não Te tinha feito qualquer sinal e, no entanto, olhaste para mim.
Eu não Te tinha dirigido qualquer súplica e, no entanto, tiveste misericórdia para comigo.
Eu não tinha articulado o mínimo som e, no entanto, ouviste-me.
Eu não tinha sequer suspirado e, no entanto, a tudo estiveste atento.
Sabedor do que ia acontecer-me neste tempo presente,
não me votaste ao desprezo.
Considerando, com Teus previdentes olhos,
os erros deste pecador que eu sou,
vieste, contudo, a modelar-me.
Sou, agora, este ser que Tu criaste,
que salvaste,
que foi alvo de tanta solicitude!
Que a ferida do pecado, suscitada pelo Acusador,
não me perca para sempre!
Presa, paralisada,
curvada como a mulher que sofria,
a minha alma infeliz, impotente, não consegue reerguer-se.
Sob o peso do pecado, ela fixa-se à terra,
com as pesadas cadeias de Satã.
Inclina-Te, ó único Misericordioso, sobre mim,
esta pobre árvore que caiu.
A mim, que estou seco, faz-me reflorir
em beleza e esplendor,
segundo as palavras divinas do santo profeta (Ez 17,22-24).
Tu, Protetor único,
digna-Te lançar sobre mim um olhar
vindo da solicitude do Teu indizível amor
e do nada criarás em mim a própria luz (cf. Gn 1,3).
Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares
Fonte: Visão Cristã