Palmares, 23 de dezembro de 2024

Retiro Quaresmal 2020/39 “Felizes os que se abrigam no Senhor!” (Sl 2,12)

09 de abril de 2020   .    Visualizações: 613   .    Palavra do Bispo

Tríduo Pascal

Meditação XXXVIII: Entregue, morto e ressuscitado!

Depois da Meditação desta Quinta-feira pela manhã, a Meditação XXXVII, ofereço-lhe aqui, ainda no âmbito deste Retiro Quaresmal, um esquema de leituras da Sagrada Escritura para os dias do Santo Tríduo Pascal. Seguindo-o, você estará unido ao Cristo na celebração solene dos mistérios de Sua Paixão, Morte e Ressurreição. A proposta que faço é exigente; requer fôlego, perseverança e amor ao Senhor! Mas, a recompensa será imensa: com as Escrituras nas mãos, você entrará no Coração do Cristo, naquilo que Ele sentiu e viveu nesses dias e, assim, poderá trazer os mesmos sentimentos do Cristo Jesus (cf. Fl 2,5). Coragem e bom proveito!

Lembre: este esquema é a continuação do Retiro Quaresmal… Vou colocá-lo por dia do Tríduo!

Uma observação: Os números dos salmos depois da barra são da Vulgata (e da Ave Maria). Os números antes da barra são da Bíblia hebraica (e da Bíblia da CNBB, de Jerusalém do Peregrino e da TEB).

Quinta-feira Santa

Neste dia toda a atenção da Igreja se volta para o Cristo que na Ceia celebrou ritualmente a Páscoa com Seus discípulos: “Desejei ardentemente comer convosco esta Páscoa antes de sofrer…” (Lc 22,15). Aquilo que o Senhor fizera nos gestos rituais (lavar os pés aos Seus, entregar-Se no pão e no vinho) na Quinta, Ele realizou realmente, como evento de salvação, na Sexta-feira. Recordemos que o Senhor fez Sua despedida no contexto da ceia pascal judaica, na qual os judeus faziam memorial da saída do Egito, libertação do povo de Israel. Jesus, agora, sairia do mundo, passando (fazendo a Páscoa) para o Pai, após atravessar o profundo e tenebroso mar da morte. Por tudo isso, para a Quinta-feira são recomendáveis os seguintes textos:

(A) Para serem lidos antes da Missa na Ceia do Senhor, preparando-se para a Celebração:

1. Jo 13,1 – 14,31

É a emocionante e solene narração da Ceia segundo João. Procure unir-se aos sentimentos de Cristo; procure entrar no clima de despedida e comoção daquela Ceia derradeira.

2. Sl 113/112 – Sl 118/117

Estes seis salmos formam o Hallel (Louvor: Hallelu-Iah: louvai o Senhor) que os judeus cantavam ao término da Ceia pascal judaica. Jesus cantou-os neste dia, recordando tudo quanto Deus fizera pelo Seu Povo ao tirá-lo do Egito: “Depois de terem cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras” (Mc 14,26). Se não for possível rezar estes salmos antes da Missa na Ceia do Senhor, que eles sejam rezados logo após.

(B) Para serem lidos após a Missa na Ceia do Senhor:

Depois da Missa na Ceia do Senhor, a Igreja leva muito a sério o convite que o Salvador nos faz: “Permanecei aqui e vigiai Comigo!” (Mt 26,38)… Você pode fazer as leituras seguintes na igreja, diante das Espécies eucarísticas, no altar da reposição… até a meia-noite…

3. Jo 15,1 – 17,26

Estes discursos de Jesus devem ser lidos após a Missa na Ceia do Senhor e dos Salmos do Hallel. Procure lê-los com o coração, devagar, curtindo, como que em câmara lenta, cada palavra do Senhor que Se entregou. É um discurso de despedida que termina com a Oração Sacerdotal de Jesus. Antes de ser entregue, Ele Se oferece livremente, conscientemente, amorosamente, por nós e por nós reza ao Pai. Foi assim, entregue, oferecido, imolado, que Ele Se deu na Eucaristia e na cruz.

4. Salmos 6, 32/31, 38/37, 51/50, 102/101, 130/129 e 143/142

Após a Ceia, Jesus entrou numa profunda agonia no Horto das Oliveiras. Seria ótimo terminar o dia com estes sete salmos. São os salmos penitenciais da Igreja. Reze-os por você, pela Igreja e pelo mundo inteiro, pelos quais o Cristo sofreu e Se entregou à morte. Reze-os como se fosse o próprio Cristo rezando pela sua voz. É verdade que Ele não teve nenhum pecado, mas nunca esqueça: Ele assumiu os nossos: “Aquele que não cometeu pecado, Deus O fez pecado por nós, para que Nele nos tornemos justiça de Deus” (2Cor 5,21).

Sexta-feira da Paixão do Senhor

Neste santíssimo dia de jejum e abstinência de carne, devemos manter um respeitoso recolhimento, unindo-nos piedosamente Àquele que por nós Se entregou até a morte. Nada de atividades inúteis, nada de músicas profanas, nada de televisão dispersiva, nada de conversas inúteis! O que proponho aqui é realmente pesado, tornado leve e suave somente pelo desejo de estar com o Senhor, de a Ele unir-se neste dia sagrado, de Dele não se apartar nem ao menos por um instante!

(A) Antes da Celebração da Paixão

Pela manhã, preparando-se para participar à tarde da Solene Ação Litúrgica da Paixão do Senhor, reze o seguinte:

1. Is 42,1-9; 49,1-7; 50,4-10; 52,13 – 53,12

São os quatro cânticos do Servo Sofredor. Eles prenunciam a Paixão do Senhor e revelam os sentimentos do Seu Coração bendito. Esses cânticos devem ser rezados com o “coração na mão”, com toda unção e devoção!

2. Salmos 21/22), 31/30 e 69/68

Destes três salmos, dois (o 21 e o 31) foram citados por Jesus na cruz. Os três revelam os Seus sentimentos, Ele, que tomou sobre Si todos os nossos pecados! Estes salmos devem ser rezados como que emprestando nossa voz ao próprio Cristo, reproduzindo em nós os Seus sentimentos benditos!

(B) Após a Celebração da Paixão do Senhor:

3. Salmos 3, 5, 7, 10, 13/12, 17/16, 25/24, 27/26, 28/27/, 35/34, 38/37, 42/41, 43/42, 54/53, 55/54, 56/55, 5756, 59/58, 61/60, 63/64, 70/69, 71/70, 86/85, 88/87, 120/119, 140/139, 141/140, 142/141, 143/142

Após a celebração da Paixão, ainda na Sexta-feira, procure rezar todos estes salmos. São muitos, mas recorde que este é um dia de penitência e oração. Estes salmos devem ser rezados em união com o Cristo, que assumindo nossos pecados, tomou toda nossa dor, todo nosso medo, toda nossa infidelidade, toda nossa fraqueza. Repito: se você rezar todos estes salmos, terá a graça imensa de compreender por dentro os sentimentos do Cristo na Sua Paixão e Morte… e irá dormir em paz, como Ele: “Em paz Me deito e logo adormeço, porque só Tu, Senhor, Me fazes viver em segurança” (Sl 4,9).

Sábado Santo

Neste dia tremendo, a Igreja permanece em profundo silêncio, unida a Maria no dia mais difícil de sua vida: dia de solidão imensa, de vazio sem fim…. Hoje, a Virgem é chamada de “Nossa Senhora da Soledade”, da solidão…

Mas, este é também dia de esperança. Os mais generosos devem jejuar. Deve-se manter um respeitoso recolhimento; nada de atividades mundanas e dispersivas!

Hoje, é proibida a comunhão eucarística até mesmo aos doentes. Somente os doentes moribundos, às portas da morte, podem comungar.

A Igreja une-se a Cristo na Sua descida aos infernos: Ele entrou de verdade na situação de cadáver, de defunto, de nada, Ele desceu aos Infernos, ao Sheol, ao Hades, à situação de morte… Durante todo o dia, vá distribuindo os seguintes textos (alguns deles poderiam ser rezados na igreja, diante da Cruz que ontem fora apresentada na Solene Celebração da Paixão e deverá estar exposta na igreja pelo menos até o meio da tarde):

1. Todo o Livro das Lamentações

Neste livro o Profeta canta a miséria e a esperança de Jerusalém e a sua própria. É Cristo e a Igreja, quem cantam sua miséria e esperança, bem como a dor e a esperança da humanidade toda e de cada um de nós! Reze as Lamentações durante todo o dia, repartindo-as em cinco partes, de acordo com os capítulos.

2. Salmos 4, 16/15 e 139/138

Estes três salmos devem ser rezados no Sábado à tardinha ou no início da noite, mas antes da Santa Vigília Pascal. Os três já prenunciam a Ressurreição… É Cristo falando neles: “Em paz Me deito e logo adormeço, porque só Tu, Senhor, Me fazes viver em segurança” (Sl 4,9), “Bendigo ao Senhor que Me aconselha, e mesmo à noite, Meus rins Me instruem. Meu Coração exulta e Minha carne repousa em segurança.. Ensinar-Me-ás o caminho da Vida” (Sl 16/15, 79) e “Senhor, Tu conheces quando Me deito (na Morte) e Me levanto (na Ressurreição)… sobre Mim Tu pões a Tua mão!” (Sl 139/138,2.5).

Domingo de Páscoa

Neste Dia santíssimo – o mais sagrado de todos, prenúncio do Dia sem fim, do Dia final – pode-se retomar os salmos da Santa Vigília Pascal!

Durante o dia todo, vá saboreando os textos que narram as aparições do Ressuscitado. Não tente compará-los nem fazer uma sequência histórica dos fatos. É impossível!

Aqui, cada texto tem sua mensagem, sua característica própria, sua vibração, seu encanto…

São textos para serem curtidos com pura emoção e gratidão, com pura louvação ao Deus fiel, que ressuscitou o seu Filho dentre os mortos, como primícias da ressurreição nossa e do mundo! Leia-os na ordem que eu coloquei:

Mt 28,1-20

Depois reze o Salmo Pascal por excelência: 118/117: “Este é o Dia que o Senhor fez para nós!”

Lc 24,1-53

Depois reze o Sl 30/29

Mc 16,1-20

Depois reze o Sl 96/95

Jo 20,1 – 21,25

Depois reze o Sl 98/97

Conclua tudo unindo-se à Igreja do Céu, que rejubila e rejubilar-se-á para sempre com estes hinos de louvor e pascal exultação:

Ap 4,11;  5,9-10.12.13;  6,10.12;  11,15.17-18;  12,10-12;  19,6-8…

E, se ainda tiver forças, leia Ap 21,1 – 22,5

E, desde já, uma feliz e santa Páscoa do Senhor!

Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares


Fonte: Visão Cristã