Quinta-feira da III semana da Quaresma
Meditação XIX: O que é precioso e o que é vil
Reze o Salmo 119/118,145-152
Como eu orientei na meditação passada, leia mais uma vez Tb 5 e avance mais, lendo até Tb 7.
1. Veja o v. 10: “Estou mergulhado nas trevas como os mortos que não contemplam mais luz; vivo como um morto…”Mais uma vez, aparece aqui a dor e o sofrimento do velho Tobit. Nós vivemos num mundo que endeusa o sucesso, que, nos meios de comunicação social, quer nos fazer ver somente a alegria, o divertimento, a realização dos desejos e o lado feliz da vida… O que aparece, geralmente, é gente bonita, com saúde, de bem com a vida; mas, não é assim a vida concreta: esta é feita de alegrias e tristezas, de luzes e sombras, consolações e desolações… A vida é um caminho aberto: não nos é garantido que tudo andará bem para nós, que nossa vida será um sucesso, como diz o Profeta Jeremias: “Eu sei, Senhor, que não pertence ao homem o seu caminho, que não é dado ao homem que caminha dirigir seus passos” (10,23). Quão incerta é a vida minha, a sua, a de todo ser humano! Sem Deus, que absurdo, que escuridão, que medo, que angústia! Mas, para aquele que crê, que é pobre diante do Altíssimo, mesmo no pranto e na dor, o sentimento é de confiante abandono, ainda que sofrendo, ainda que sem compreender… É comovente ver a situação do velho Tobit: ele não reclama de Deus, ele não exige, ele não diz: “Eu Te servi e Tu me maltrataste; Tu não me recompensaste…” Tobit aceita com paciência a sua situação, intui que o Senhor tem sua vida nas Suas mãos benditas e santas. Ora, para quem se coloca assim nas mãos do Senhor, venha o que vier, tudo correrá bem: “Tem confiança, que Deus em breve te curará. Tem confiança!”
E você: confia no Senhor? Coloca sua vida nas mãos Dele ou pensa que pode controlar o seu futuro? Como você enfrenta as incertezas e dificuldades da vida? Lembre: o velho Tobit ainda não conhecia o Cristo; mas você O conhece; sabe que o cristão está unido ao seu Senhor no gozo e na dor, na vida e na morte. Leia Rm 8,35-39; 14,7-9; 2Cor 1,4-5; Fl 1,21.29. Agora, reze o Sl 90/89.
2. Um outro ponto para nossa meditação: depois que Azarias, apresenta-se, Tobit afirma que seu novo conhecido é de “ilustre estirpe” (v. 14). Por que o ancião avalia assim a família de Azarias: pelo dinheiro? pela fama? pela elevada posição social? Não! Para o homem piedoso, para um verdadeiro amigo de Deus todas estas coisas contam pouco! Veja quais as virtudes que Tobit vê nos ancestrais de Azarias, que os torna uma estirpe ilustre: “Eles iam comigo a Jerusalém, juntos lá adorávamos, e eles não se desviaram do bom caminho! Teus irmãos são homens de bem!” (v. 14). E para você: quem é ilustre? Que tipo de pessoas você valoriza, admira, frequenta? Quais os seus critérios? Quais os seus valores? Reze o Sl 1.
3. Observe o modo judaico de usar a palavra “irmão”: todos os membros de um clã e de um povo (cf. 4,13; 5,5.9.11; 7,1-9); amigos que se tornam íntimos (cf. 6,7.10.13.14); esposo e esposa (cf. 5,21; 7,11) e até pais e filhos (cf. 6,19). Há mais: tio e sobrinho (Gn 13,8); primos e primas (1Cr 23,22).
Agora reflita um pouco: a Tradição constante da Igreja – seja a Igreja de Roma, como as Igrejas que romperam com Roma ainda no primeiro milênio: nestorianos, monofisitas, ortodoxos -, afirma que a Virgem Maria somente teve um filho: Jesus nosso Senhor e que os chamados “irmãos de Jesus” são, na verdade, Seus parentes próximos (cf. Mt 12,46-49; 13,55; Mc 3,31ss; Lc 8,19ss; Jo 7,3; At 1,14; 1Cor 9,5; Gl 1,19). É importante recordar que jamais as Escrituras dizem que os “irmãos de Jesus” eram filhos de Maria! Ainda mais: se Jesus tivesse irmãos filhos de Maria Virgem, não teria sentido algum Ele deixar Sua mãe aos cuidados de um estranho, João, filho de Zebedeu (cf. Jo 19,26s)! Sustentar que a Virgem santíssima teve outros filhos além do Senhor é uma afirmação gratuita, um erro grave e uma heresia superficial e leviana, resultado de uma leitura das Escrituras Sagradas fora da reta Tradição apostólica. Nunca esqueça: fora da Igreja, fora do ambiente da Tradição apostólica, sustentada e vivificada pelo Espírito, as Escrituras levarão muitas vezes a engano e confusão! Exemplos disto temos aos montes atualmente!
4. Agora, tome o v. 9, com a comovente palavra de Ana, esposa de Tobit: “Que não seja o dinheiro o mais importante; que ele não tenha valor ao lado do nosso filho”. É uma palavra cheia de amor, pronunciado por uma mãe aflita. Dinheiro, bens materiais, não é tudo… Há realidades muito mais valiosas: a fé e a amizade com Deus em Cristo, as relações pessoais, sobretudo as familiares, a vida das pessoas e o respeito que se deve a elas. Pense um pouco: Qual a sua hierarquia de valores? O que é realmente importante para você? Pense em situações concretas da sua vida, em atitudes concretas que comprovem quais são seus valores. Leia Mt 6,19-21.
5. Terminemos esta meditação com a partida de Tobias e Azarias. Pense nas partidas e chegadas da sua vida! Cada projeto, cada viagem, cada realização, cada recomeço… Vivemos partindo e chegando… Releia o v. 17. Pensando na sua vida e nas suas partidas e chegadas, reze o Sl 121/120.
Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares
Fonte: Visão Cristã