Neste Domingo próximo, a Igreja começará a celebrar o santo tempo do Advento, que abre o novo ano litúrgico e nos prepara para o Natal.
Trata-se de um período composto por quatro semanas nas quais a Igreja pode muito bem exprimir seus sentimentos com as palavras da esposa do Cântico dos Cânticos:
“Eis a voz do meu Amado! Ele vem correndo pelos montes… Meu Amado é meu e eu sou Dele!” (2,8s.16).
Ele vem vindo, o Amado, “porque Deus amou tanto o mundo que entregou o Seu Filho único” (Jo 3,16) para ser o Esposo da humanidade, o Salvador do mundo.
O Autor da Epístola aos Hebreus exprimiu isso de modo muito profundo:
“Muitas vezes e de modos diversos falou Deus, outrora, aos Pais pelos profetas; agora, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio do Seu Filho, a Quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e pelo Qual fez os séculos” (1,1-2).
Efetivamente, Deus já não nos manda um mensageiro, um intermediário, um presente… Ele vem pessoalmente no Seu Filho, vem Ele mesmo ser o Emanuel, o Deus-conosco! Por isso o homem pode ter a certeza que não mais está só, que não mais pode se sentir desamparado, esquecido, perdido… Apesar de tanta dor e sofrimento ainda existentes no nosso mundo!
Mas, aprofundemos um pouco mais. O Advento celebra a espera do Salvador. Ele foi esperado ansiosamente, de modo que não é somente o Enviado do Pai, mas também o Desejado por nós! Mais que o vigia pela aurora, mais que a terra pelo sol nascente, mais que a flor pelo orvalho, nós O esperamos.
Primeiramente, esperado por Israel, o Povo eleito, porque Deus O prometera a Abraão, aos Patriarcas, a Moisés, a Davi, aos Profetas. E quando Deus promete, não falha jamais! Tantas páginas das Escrituras de Israel falam deste Esperado!
Como esquecer as palavras do velho Jacó, no leito de morte, já cego? “Judá, teus irmãos te louvarão, tua mão está sobre a cerviz de teus inimigos e os filhos de teu pai se inclinarão diante de ti. O cetro não se afastará de Judá nem o bastão de chefe de entre seus pés até que venha Aquele a Quem pertencem e a Quem obedecerão os povos” (Gn 49,8-10).
E as palavras de Deus a Davi? “O Senhor te diz que Ele te fará uma casa. E quando os teus dias estiverem completos, farei permanecer a tua linhagem após ti, gerada das tuas entranhas e estabelecerei para sempre o seu trono. Eu serei para Ele um pai e Ele será para mim um filho” (2Sm 7,11ss).
Deus prometeu, jurou a Israel pela Sua fidelidade: “A virgem vai conceber e dará à luz um filho e Seu nome será Deus-conosco!” (Is 7,14).
Até pela boca de um feiticeiro pagão, um tal de Balaão, Deus prometeu: “Eu vejo, mas não para já, eu contemplo, mas não para perto: uma Estrela sai de Jacó e um cetro se levanta de Israel” (Nm 24,17).
Por isso mesmo, Israel esperou, acreditou, implorou: “Céus, deixai cair o orvalho das alturas, e que as nuvens façam chover a justiça; abra-se a terra e germine a salvação!” (Is 45,8);
“Senhor, Tu és o nosso redentor; Eterno é o Teu Nome! Ah! se rasgasses os céus e descesses! As montanhas se desmanchariam diante de Ti!” (Is 63,19).
Nos momentos de alegria, Israel esperou; e esperou também nos momentos de trevas e de dor! É esta espera comovente, insistente, teimosa, que a Igreja celebra e revive no Advento!
Mas o Salvador que Deus nos enviou foi também esperado pelos pagãos, por todos os povos! É uma ideia que nem sempre recordamos e, no entanto, é um aspecto importante do Advento: os pagãos desejaram o Salvador! Eles não conheciam as promessas de Deus, não conheciam o Deus verdadeiro; não sabiam nada a respeito do Messias… Mas tinham e têm ainda no coração um desejo louco de paz, de verdade, de vida, de amor… Sede que Deus mesmo colocou nos seus corações para que sem saberem, às apalpadelas, buscassem Aquele único que pode dar repouso ao coração humano. É isso que Mateus quer dizer quando nos conta a visita dos Magos: eles vêm de longe, seguindo a estrela do Menino; esperavam e agora o procuram: “Vimos a Sua estrela e viemos adorá-Lo!” (Mt 2,2)! Esses Magos representam os pagãos todos, todos os homens e mulheres de boa vontade que, seguindo sua consciência, sem saber, procuravam o Salvador. Pensemos em tantos santos pagãos do Antigo Testamento: Noé, Melquisedec, Jó… Pensemos em tantos sábios das várias culturas: Buda, Confúcio, Maomé, Sócrates e tantos outros, tão numerosos que somente Deus pode contá-los… Todos esperam Aquele que é a verdade, a luz que ilumina todo homem que vem a este mundo! Também destes a Igreja recorda neste tempo do Advento.
Esperado por Israel, esperado pelas nações, o Salvador também foi esperado pela criação toda! É admirável e sublime! Se tudo foi criado através Dele e para Ele (cf. Cl 1,15), tudo traz em si Sua marca, a saudade do encontro com Ele!
A Mãe católica, num êxtase emocionado, canta assim, nas vésperas do Natal:
“Saúdam Vossa vinda /o céu, a terra, o mar /e todo ser que vive /entoa o seu cantar!”
É toda a criação que o espera! Tudo, desde o início, caminha para Ele! Desde quando explodiu o universo, iniciando a festa, o baile da existência; desde quando as galáxias se formaram; desde quando nosso sistema solar, nosso planeta foram delineados… Tudo caminha para Ele… Passo a passo, lentamente, aos olhos da eternidade de Deus: e a vida surgiu na terra, tímida, pequena, frágil… Depois, a vida animal; depois o homem… Tudo caminhando para Ele, para noite de Belém e, um dia, que será o Dia, caminhando para o Cristo Ressuscitado, que virá em glória!
É porque tudo caminha para Ele que o botão se abre em flor, que a vida teima em brotar, que o universo se expande! Também esta espera cósmica é celebrada pela Igreja nestes dias de Advento!
Que também nós entremos na festa, na espera, na esperança… E abramos o coração para Aquele que vem – o Enviado, o Esperado, o Rei que vai chegar -sim, um Dia, no Seu Dia, Ele Se manifestará em plenitude de Glória! Esta é nossa certeza e nossa esperança!
Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares (PE)
Fonte: Dom Henrique Soares da Costa
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