Palmares, 22 de dezembro de 2024

Neste último Domingo, o que nos falou o Senhor… (I)

12 de agosto de 2019   .    Visualizações: 774   .    Palavra do Bispo

Ontem, no Evangelho, o Senhor nosso, Jesus Cristo, ao mesmo tempo nos consolava e nos exortava: “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino” (Lc 12,32).

Primeiramente, o Senhor nos chama a nós, “Seus discípulos” (Lc 12,22)de “pequenino rebanho”.

Por que, “pequenino rebanho”?

Primeiro, porque sempre seremos poucos, uma minoria, dispersa por toda a terra, “estrangeiros da Dispersão”, como disse o Apóstolo São Pedro, na sua Primeira Carta (1,1). Nós não temos aqui na terra Cidade permanente: estamos a caminho, à procura daquela definitiva, que está para vir (cf. Hb 13,14). Somos como os nossos pais, tão belamente evocados na primeira leitura (cf. Hb 11,1-2.8-19): viveram de fé, viveram tendo o Senhor como sua única certeza, como sua riqueza e esperança; viveram sem construir casas, vivendo debaixo de tendas provisórias! Isto nós somos também: estrangeiros neste mundo, pois nossa pátria é o Céu, pobres, pois nossa riqueza definitiva é o Senhor. Ele mesmo nos exorta a isto: “Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não fiquem velhas, um tesouro inesgotável nos Céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói. Pois onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc 12,33s). Eis o pequenino rebanho: uns poucos, que têm em Deus sua certeza, sua segurança, sua esperança; uns poucos cuja existência não é alicerçada em seguranças da terra, mas no Céu de onde esperam sempre a salvação!

Também somos “pequenino rebanho” porque é como dizia o Apóstolo São Paulo: “Vede quem sois, irmãos, que recebestes o chamado de Deus; não há entre. Vós muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de família prestigiosa” (1Cor 1,26). A verdade é que não existe nem deve existir uma Igreja de Cristo poderosa, forte grupo de pressão, que grita e impõe! Pode até aparecer, na casca, como fenômeno, como aparência tristemente visível uma Igreja assim – e já apareceu tantas vezes na história; e ainda hoje tantos e tantos, à direita e à esquerda, têm saudades disto! Mas, a Igreja, verdadeiramente, no seu núcleo mais puro e verdadeiro, será sempre aquele rebanho pequeno, que encontra no Senhor a sua força, a sua riqueza, o seu alicerce, a sua razão de ser, o seu tesouro: “Deixarei em teu seio um povo humilde e pobre, e procurará refúgio no Nome do Senhor, o Resto de Israel” (Sf 3,12s). É este Resto, inquieto, esperançoso no Senhor, saudoso do Senhor, teimoso, fiel, que se alimenta da Palavra do Senhor e dos Seus santos Mistérios sacramentais; é este Resto, que não confunde o Evangelho com faniquitos ideológicos de momento, que não procura glória mundana, triunfos mundanos nem aplausos dos bem pensantes de ocasião, que não coloca esperança ou salvação em modas ideológicas pomposas, sedutoras, ilusórias e fugazes, mas somente no Senhor, no Eterno, no Vencedor da Morte; é este o “pequenino rebanho” que receberá o Reino!

“Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino” (Lc 12,32).

Por que este pequenino rebanho, núcleo duro da Igreja de Cristo, é que receberá o Reino?

Simplesmente porque não se distraindo do essencial, não desviando os olhos do Cristo Jesus, mas “com os olhos fixos Naquele que é o Iniciador e Consumador da fé, Jesus” (Hb 12,2), não se deixa seduzir pelo mundo e o mundano,

não tira os olhos do único necessário,

não desvia o olhar e o coração do Cristo Jesus,

não se distrai da meta,

não se fecha em si mesmo e nas suas ideias, mas permanece ouvindo como um discípulo,

persiste em crer no Senhor, em procurá-Lo na oração, em esperar Nele, mesmo que tudo pareça perdido,

conserva fielmente no coração a fé católica e apostólica, sem paganizá-la ou fazer concessões mundanas,

teima em avaliar o mundo segundo Cristo e não mundanizar o santo Evangelho do Senhor, deturpando-o,

suporta as tremendas demoras de Deus, correndo com perseverança humilde a corrida que o Senhor nos faz correr (cf. Hb 12,1).

Este é o rebanho pobre, humilde, que não conta para o mundo, que não é querido pelos grandes e sábios do mundo; estes são os que muitas vezes não têm vez sequer no meio de muitos irmãos… Sendo nada, esvaziando de si próprios, eles vão abrindo-se para o Senhor Deus e deixando que Ele reine verdadeiramente nas suas vidas. E, então, o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo reina no coração deles e entre eles! “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino” (Lc 12,32).

Dom Henrique Soares da Costa

Bispo de Palmares

Fonte: https://visaocristadomhenrique.blogspot.com/2019/08/neste-ultimo-domingo-o-que-nos-falou-o.html?m=1