Toda esta Antífona deste dia 21 de dezembro é inspirada no Benedictus, o Cântico de Zacarias (cf. Lc 1,68-79). Aí está dito que o Messias é o Astro das alturas que vem “iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte”.
É um tema recorrente na Sagrada Escritura, aquele do Messias como portador da luz, iniciador do Dia eterno, sem fim, Sol nascente que dissipa a noite deste mundo. Baste recordar algumas passagens bíblicas:
A antífona de hoje recorda também que Cristo, Sabedoria de Deus, é esplendor da luz divina: Ele traz em Si o brilho de Deus, pois é Deus como o Pai: A Sabedoria “é um eflúvio do poder de Deus, uma emanação puríssima da glória do Onipotente, pelo que nada de impuro Nela se introduz, pois Ela é um reflexo da luz eterna, um espelho nítido da atividade de Deus e uma imagem de Sua bondade. Sendo uma só, tudo pode; sem nada mudar, tudo renova e, entrando nas almas boas de cada geração, prepara os amigos de Deus e os profetas; pois Deus ama só quem habita com a Sabedoria. Ela é mais bela que o sol, supera todas as constelações: comparada à luz do dia, sai ganhando, pois a luz cede lugar à noite, ao passo que sobre a Sabedoria não prevalece o mal” (Sb 7,25-30).
Por tudo isso, é muito belo o título de Oriente, dado a Cristo. O oriente é a direção na qual nasce a luz, é o lado, o berço da luz, do início de um novo dia.
Chamar Cristo de Oriente é chamá-Lo de novo Dia, nova Luz, início e causa duma nova era. De fato, Ele é o Dia sem fim, Aquele que inicia um novo tempo, quando já não mais haverá trevas, pois Sua luz é divina, já que Ele vem do Pai e é puro reflexo da Sua divindade. Por isso mesmo, os primeiros cristãos tinham o costume de rezar voltados para o Oriente. Na Missa, tanto o sacerdote quanto o povo celebravam os santos mistérios voltados para o Oriente, como quem vai ao encontro do Cristo que vem como Sol de justiça, como Dia da glória sem fim, quando o tempo entrará na Eternidade, as trevas cederão à Luz e a história desembocará na Glória. Daí, também, o próprio verbo “orientar-se”: voltar-se para o oriente, para o rumo correto, para Cristo!
Na vida, caminhar ao encontro de Cristo Sol nascente, é “orientar-se”; Dele afastar-se, dando-Lhe as costas, é perder a “orientação”, é voltar-se para o ocidente, isto é, para as trevas. Na Igreja antiga, em algumas regiões, os catecúmenos adultos, antes do Batismo, voltavam-se para o ocidente – lado no qual o sol se põe e as trevas se originam – e diziam, depois de cuspirem: “Eu renuncio ao Diabo!” Em seguida, voltavam-se para o oriente, abriam os braços e exclamavam: “Eu adiro a Cristo!”
Oriente é também o “lugar” no qual o Senhor Deus plantou o jardim do paraíso e aí colocara o homem (cf. Gn 2,8). Nosso verdadeiro paraíso, nosso verdadeiro jardim, lugar da nossa salvação definitiva, no qual toda a humanidade pode ser colocada e plenificada – paraíso perdido pelo pecado e reencontrado na Encarnação do Verbo – é o Cristo nosso Senhor. O jardim definitivo, que o homem jamais perderá, é o próprio Cristo, que nos acolhe para as núpcias eternas e nos dá como fruto da árvore da Vida, árvore de Sua Cruz, Seu próprio Corpo e Sangue, por nós assumidos em Maria Virgem no mistério da Encarnação. Tudo isto é evocado nesta antífona. Por isso mesmo, o final tão confiante: que o Santo Messias ilumine com a graça da Sua divindade bendita as trevas de nossa existência!
Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares (PE)
Fonte e Foto: Visão Cristã