Palmares, 25 de abril de 2024

Meditação para o XXI Domingo Comum – Ano A

22 de agosto de 2020   .    Visualizações: 490   .    Homilias

Caríssimos em Cristo, podemos meditar a Palavra que o Senhor nos dirige neste hoje tomando três personagens que aparecem no evangelho a pouco proclamado.

Comecemos com Jesus, nosso Senhor. Ele faz duas perguntas inquietantes, desafiadoras. Primeiro indaga: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?”, ou seja: Quais as opiniões do mundo a Meu respeito? O que dizem as revistas, os programas de televisão, os documentários científicos? As respostas, ontem como hoje, são sempre imprecisas, incompletas ou, pior ainda, errôneas.
Estai bem atentos, irmãos amados no Senhor: ninguém, somente com sua inteligência e com sua ciência, poderá saber realmente quem é Jesus; ninguém poderá chegar ao âmago do Seu mistério! Quanto de impreciso e de aberrante já foi dito sobre o nosso Salvador por ilustres sábios da sabedoria do mundo! E todos esses sábios não passaram e não passam de estultos, cegos guiando cegos e tolos ilustrando a tolos…

Mas, então, o Senhor nosso faz um outra pergunta, tremenda, comprometedora: “E vós, quem dizeis que Eu sou?” E Simão filho de Jonas responde; responde não por si, não com as forças da sua inteligência ou da sua teologia, mas segundo a inspiração do Pai do Céu e, por isso, responde a resposta exata, diz a frase completa, precisa, correta: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!”
Eis, meus irmãos, qual a nossa fé! Eis a rocha do cristianismo, a certeza dada por Deus, revelada por Deus, garantida por Deus: Jesus de Nazaré é o Ungido, o Messias prometido a Israel e anunciado pelos profetas. Mais ainda: Jesus é o Filho único do Pai, Aquele único que pode revelar o Pai e nos pode levar ao Pai, porque vem do Pai, conhece o Pai e é um com o Pai! “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!” Há dois mil anos, caríssimos, a Igreja vive desta certeza recebida de Deus: “Não foi um ser humano que te revelou isso, mas o Meu Pai que está no Céu!” É esta a nossa fé e qualquer um que pense diferente, ainda que se diga cristão, não o é; e ainda que se diga teólogo, mente; ainda que se proclame católico, engana, com o engano daquele que é Enganador desde o princípio!
Só Jesus é o Senhor, só Jesus é o Santo, só Jesus é o Altíssimo, só Jesus pode nos salvar, só Jesus pode nos dar a Vida em abundância. Fora Dele não há salvador e sem passar por Ele – que é o Caminho – não há meio de se chegar ao Pai! Esta é a nossa certeza, nossa identidade, a pedra da nossa vida – e que ninguém nos engane, pois o que passa disso vem do Maligno!

Agora, depois de termos tomado Jesus, tomemos um segundo personagem: nós mesmos, cristãos. De modo direto e inquietante o Senhor nos pergunta: “Vós, quem dizeis que Eu sou?” É uma pergunta feita a cada batizado de cada geração, enquanto o mundo for mundo… Esta questão, caríssimos em Cristo, não é teórica, não pode ser respondida com meras palavras; pode ser respondida somente com a vida: Quem é Jesus para mim? Que lugar Ele ocupa na minha existência, nas minhas escolhas, nas minhas decisões, no meu modo de viver? É Ele a minha Verdade? É Ele o meu Critério? É Ele a minha Certeza? Peçamos ao Senhor a graça de responder com a vida: “Senhor, Tu és o Cristo de Deus, Tu és tudo para mim: meu chão, minha certeza, meu caminho, meu único Mestre e Senhor, mesmo quando Tua Palavra é dura e Teu caminho é difícil! Tu és o Filho único de Deus! Tu és o meu Salvador!”

E agora, finalmente, o último personagem: Simão, o filho de Jonas. Inspirado pelo Pai, ele revelou quem é Jesus. E agora Jesus revela quem ele é: “Tu és Pedra da Igreja!” Que mistério, que “profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus”! Toma um homem simples, rude, de temperamento generoso, mas inconstante e dele faz Pedra da Igreja: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos Céus!” Como Eliaquim, na primeira leitura, foi feito administrador da Casa de Davi, agora Jesus, o descendente de Davi por excelência, faz do pobre Simão administrador da Sua casa, que é a Igreja!
Eis, meus irmãos, a missão de Pedro na Comunidade cristã! Não interessa que seja Simão filho de Jonas, Pio XII, João XXIII, João Paulo II, Bento XVI ou Francisco… Seu verdadeiro nome será sempre “Pedra-Pedro”: pedra pela graça de Cristo, pedra pela fidelidade de Cristo, pedra pela ação do Espírito de Cristo! E se isto nos parece impossível, o Senhor declara e promete: “O poder do inferno nunca poderá vencê-la”, nunca triunfará contra a Igreja – aquela única de Cristo, aquela que se reúne ao redor de Pedro, aquela a que chamamos com amor filial de una, santa, católica e apostólica! Sim! Ainda que muitos, cheios de uma sabedoria meramente humana, queriam sufocar a verdade em nome de uma harmonia que não vem de Deus, nós sabemos, como nossos antepassados sempre souberam, qual o sinal da verdadeira e única Igreja de Cristo; sabemos onde ela está. O sinal é claro, a identidade é luminosa: a Igreja de Cristo subsiste unicamente na Igreja católica, aquela fundada por Cristo sobre Pedro e a ele entregue para que a apascente e a conduza em Nome do Senhor!

Certamente, que é enorme a autoridade de Pedro na Igreja de Cristo: ele tem a missão de ligar (punir, excluir da comunidade eclesial) e desligar (absolver, reintroduzir na comunidade), tem o dever de confirmar os irmãos e apascentar o rebanho de Cristo como seu pastor supremo neste mundo (cf. Lc 22,31-32; Jo 21,15-17; At 5,1-11; Gl 1,18). Mas, tudo isto Pedro somente poderá fazer sustentado pela graça de Cristo e pensando não as coisas do mundo, mas as coisas de Deus (cf. Mt 16,23); caso contrário, seria pedra de tropeço, de escândalo (cf. Mt 16, 16,23), ao invés de cumprir sua função de pedra da Igreja!
Estejamos, pois atentos: todos os discípulos do Senhor e membros do Seu rebanho devem respeito e obediência leal e sincera a Pedro e a seus legítimos sucessores. Apartar-se da comunhão com Pedro é apartar-se da plena comunhão visível com a única Igreja do Cristo! A autoridade de Pedro, irmãos amados, é um serviço e é com este espírito que os sucessores de Pedro devem desempenhá-la. E ainda que pessoalmente algum papa possa dar um mau exemplo, não nos ser simpático ou ter ideias que não concordam com as nossas, isso não nos dispensa de respeitá-lo e obedecer-lhe naquilo que ele ensina como doutrina perene da Igreja através dos séculos e nos seus atos de governo da Igreja! Eis: não é por causa de Pedro que amamos a Pedro; não é por causa do Papa que obedecemos e reverenciamos o Papa… É unicamente por causa de Cristo, que a Pedro e seus sucessores entregou a Sua Igreja; é unicamente confiados na infalível e eterna promessa do nosso Salvador que não engana nem Se engana: “O poder do Inferno nunca poderá vencê-la!” Crer que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus com poder, exige crer que Ele sustenta, vivifica e guia Sua Igreja com a força do Santo Espírito e o ministério dos seus legítimos pastores, a começar pelo Papa, Sucessor de Pedro. E nesta fé queremos viver e morrer. Amém!

Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares


Fonte: Dom Henrique Soares da Costa