Palmares, 21 de novembro de 2024

Meditação para o Domingo Cristo Rei – Ano A

21 de novembro de 2020   .    Visualizações: 707   .    Homilias

Ez 34,11-12.15-17
Sl 22(23)
1Cor 15,20-26.28
Mt 25,31-46

Neste último Domingo do Ano Litúrgico, a Igreja nos apresenta Jesus Cristo como Rei do universo. O Evangelho no-lo apresenta cercado de anjos, sentado num trono de glória para o julgamento final da história e da humanidade toda. Ele é Rei-Juiz, é o critério da verdade e da mentira, do bem e do mal, da vida e da morte.

Por mais que a humanidade queira fazer a verdade do seu modo, distorça o bem em mal e o mal em bem e procure a vida onde não há vida verdadeira, vida plena, somente em Jesus Cristo tudo aparecerá, um dia, na sua verdadeira medida, na sua justa realidade, na sua real verdade!

Eis, meus Irmãos: Nós cremos com toda firmeza que a criação toda, a história humana toda e a vida de cada um de nós caminham para o Cristo e por Ele serão passadas a limpo, Nele serão julgadas! Ele é Rei-Juiz: ao final “todas as coisas estarão submetidas a Ele”, “através de Quem e para Quem todas as coisas foram criadas” (Cl 1,15). Fora dele não haverá salvação, nem esperança nem vida.

Mas, se Cristo Jesus é nosso Rei-juiz, isto se deve ao fato de primeiramente ser nosso rei-Pastor, Aquele que dá a vida pelas ovelhas. Ele é “o que foi imolado”, o mesmo que, com ânsia e cuidado, procura Suas ovelhas dispersas, toma conta do rebanho, cuida da ovelha doente e vigia e vela em favor da ovelha gorda e forte. Eis o nosso Juiz, eis o Juiz da humanidade: Aquele ferido de amor por nós, Aquele que por nós deu a vida, Aquele que Se fez um de nós, colocando-Se no nosso meio!

Atualmente, a nossa civilização ocidental perdeu quase que de modo total a consciência da realeza de Cristo. Dizem hoje, cheios de orgulho: o homem é rei! Gritam: “Não queremos que Este Jesus reine sobre nós! Não queremos que nos diga o que fazer, como viver; não aceitamos limites do certo e do errado, do bem e do mal, do moral e do moral… A não ser os nossos próprios limites. E, para nós, não há limites!” Eis o pecado original, a arrogância fundamental da humanidade atual. Nunca fomos tão prepotentes quanto agora; nunca tão iludidos e enganados como atualmente!

E, no entanto, Cristo é Rei, o único Rei verdadeiro, cujo Reino jamais passará!

Mas esse Rei nos escandaliza também a nós, cristãos. É que Ele não é um rei mundano, estribado na vã demonstração de poder, de glória, de imposição. Não! Ele é o Rei-Pastor que Se fez Rei-Cordeiro manso e humilde imolado por nós; por isso “é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a força e a honra. A Ele o poder pelos séculos”.

Atenção, meus caros, que a grandeza e o poder do Senhor neste mundo não se manifestarão na grandeza, mas nas coisas pequenas, na fragilidade do amor, daquele amor que na cruz apareceu como capaz de entregar a vida pelos irmãos.

Gostaríamos de um Cristo-Rei na medida das nossas vãs grandezas; um rei de reino e de reinado deste mundo, à medida do mundo, tendo como programa a pauta do mundo… Gostaríamos de uma Igreja forte, aplaudida, elogiada, reverenciada pelo mundo porque dobra-se ao mundo…

Mas, não! Não pode ser assim! Nunca será assim! A Igreja, continuadora na história do mistério salvífico de Cristo, tem de participar do escândalo do Seu Senhor, da humilhação do seu Senhor, da Páscoa do seu Senhor e Rei! O caminho da Mãe católica neste mundo, de modo misterioso, tem que fazer parte das dores do Reino do Senhor! E faz parte do mistério do Reino a pobreza de Cristo, a mansidão de Cristo, a derrota de Cristo na cruz, o silêncio de Cristo, a morte de Cristo. E tudo isso tem que estar presente também na vida da Igreja e na nossa vida! Por isso, nos exorta São Paulo: “Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado dentre os mortos. Fiel é esta palavra: Se com Ele morremos, com Ele viveremos. Se com Ele sofremos, com Ele reinaremos” (2Tm 2,8.11).

Eis, pois, caríssimos no Senhor! Celebremos hoje a realeza de Cristo, dispondo-nos a participar da Sua cruz. Na Igreja, no Reino de Deus, reinar é servir. Sirvamos, com Cristo, como Cristo e por amor de Cristo! No Evangelho desta Solenidade, o critério para participar do Reinado do Senhor Jesus é tê-Lo servido nos irmãos: no pobre, no despido, no doente, no prisioneiro, no fraco…

Que Reino, o de Cristo! Manifesta-se nas coisas pequenas, nas pequenas sementes, nos pequenos gestos, no amor dado e recebido com pureza cada dia.

Na verdade, segundo os Santos Padres da Igreja, o Reino de Cristo, o Reino que Ele entregará ao Pai, somos nós; nós, que fizemos como Ele fez, lavando os pés do mundo e servindo ao mundo a única coisa que realmente compensa:
o amor de Cristo,
a verdade de Cristo,
o Evangelho de Cristo,
o exemplo de Cristo,
a salvação de Cristo, a vida de Cristo,
para que o mundo participe eternamente do Reino de Cristo!

Caríssimos no Senhor, despojemo-nos de todo pensamento mundano sobre reis, reinos e coroas. Fixemos nosso olhar no trono da Cruz, Naquele que ali Se encontra despido e coroado de espinhos.

Aprendamos com admiração, estupor e gratidão que nossa mais gloriosa herança neste mundo é participar do Seu Reinado, levando a humanidade a descobrir quão diferentes dos seus são os critérios de Deus.

Quando aprendermos isso, quando a humanidade aprender isso, o Reino entrará no mundo e o mundo entrará no Reino, Reino de Cristo, Reino de verdade e de Vida, Reino de santidade e de graça, Reino da justiça, do amor e da paz.

Domine, adveniat Regnum tuum! – Senhor, venha o teu Reino! Amém.

Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares (PE)


Fonte: Dom Henrique Soares da Costa
Foto: Irmãs Franciscanas