Palmares, 08 de maio de 2024

Homilia para o XXXII Domingo Comum – ano c

09 de novembro de 2019   .    Visualizações: 599   .    Homilias

2Mc 7,1-1.9-14

Sl 16

2Ts 2,16 – 3,5

Lc 20,27-38

Estamos já próximos do final do Ano Litúrgico. De hoje a 15 dias, estaremos celebrando a Solenidade de Cristo-Rei, que marca o final do ano da Igreja. Pois bem, a Liturgia nos vai educando, irmãos amados, fazendo-nos pensar no fim de nossa vida, fim no sentido de final e fim no sentido de finalidade – fim que, em todo caso, nos obriga a nos perguntar pelo sentido da nossa existência e pelo que estamos fazendo dela. Neste sentido, tivemos a Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração dos Fiéis Defuntos… E hoje a Liturgia fala-nos da ressurreição.

O Evangelho nos apresenta uma disputa entre o Senhor Jesus e os saduceus, que não acreditavam na ressurreição. O Senhor confirma: há, sim ressurreição! Os mortos ressurgirão, mas de um modo que nós não podemos descrever nem imaginar: “Os que forem julgados dignos da ressurreição dos mortos e da Vida futura, nem eles se casam nem elas dão em casamento; e já não poderão morrer, pois serão iguais aos anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram”. Em outras palavras: estaremos em tal comunhão com o Deus vivente, Deus da vida plena, em tal proximidade Dele – como os anjos – que, a morte nunca mais nos poderá atingir: nem a morte física, nem a morte da dor, nem a morte da tristeza, do medo, da saudade, nem a morte do pecado! Como diz o Salmista: “Eu verei, justificado, a Vossa Face e ao despertar me saciará Vossa presença!”

Caríssimos, quando a Escritura fala em ressurreição, não está pensando simplesmente em voltarmos a esta nossa vida, deste nosso modo atual, somente que habitando no Céu… De modo algum! Nós seremos glorificados em corpo e alma! Ressuscitar é receber em todo o nosso ser a Vida de Deus, que Cristo, o Primogênito dentre os mortos, nos conquistou e já derramou em nós no Batismo. Semente dessa Vida é o Espírito Santo vivificador – o mesmo em Quem o Pai ressuscitou o Filho Jesus! É Jesus Quem nos ressuscita, Ele que disse a Marta: “Eu sou a Ressurreição!” (Jo 11,25) É somente Nele e por causa Dele que esperamos vencer a morte!

Na primeira leitura deste Domingo escutamos, impressionados, o testemunho dos sete irmãos, filhos de uma corajosa mãe viúva, que incentiva seus filhos a entregarem a vida por amor da Lei de Deus. Donde lhes vinha tanta coragem? Donde, tanta disponibilidade para serem fiéis até o fim? Da certeza de que ressuscitariam: “Prefiro ser morto pelos homens tendo em vista a esperança dada por Deus, que um dia nos ressuscitará!” – disse um deles. E o outro, pensando na ressurreição da carne, afirmou sem medo: “Do céu recebi estes membros; por causa de Suas leis os desprezo, pois do Céu espero recebê-los de novo!” Vede, meus caros, o quanto a certeza da Vida eterna muda nosso modo de enfrentar os revezes da vida! A este propósito, poderíamos perguntar: Tanta frouxidão na nossa fé, tanto relaxamento nos nossos costumes, tão pouca seriedade na prática da religião, tanta condescendência com os vícios, a comodidade e a tibieza, não seriam causados por uma fraca e sem convicção fé na ressurreição, na Vida eterna? Atenção, que quando, de verdade, cremos numa recompensa celeste, quando verdadeiramente levamos a sério o juízo de Deus e a ressurreição, tudo muda de figura no nosso modo de agir e reagir aos desafios e dificuldades da vida, “pois nossas tribulações momentâneas são leves em relação ao peso eterno de Glória que elas preparam até o excesso. Não olhamos para as coisas que se veem, mas para as que não se veem; pois o que se vê é passageiro, mas o que não se vê é eterno” (2Cor 4,17s).

A nossa esperança é firme: fomos criados para Deus, para Deus estamos a caminho… Um dia morreremos, terminará nosso caminho neste mundo tão incerto. E, imediatamente após a morte, em nossas almas, estaremos diante do Cristo, nossa Salvador e Juiz, cumprindo o ardente desejo do Apóstolo e de todo cristão: “Meu desejo é partir para estar com Cristo, pois isto me é muito melhor, pois, para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1,23.21). Se tivermos sido abertos ao Seu Espírito Santo, se Lhe tivermos sido realmente fiéis, Ele, nosso Senhor, no Seu abraço eterno, glorificará com o Seu Espírito Santo a nossa alma e, então, estaremos para sempre com o Senhor, onde ninguém mais vai sofrer, ninguém mais chorar, ninguém vai ter saudade, ninguém mais vai ficar triste, pois “nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a profundeza, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,38s). No final dos tempos, quando Cristo nossa vida, glorificar todo o universo, também nossos pobres corpos ressuscitarão, pela força e ação do mesmo Espírito Santo vivificador, que o Senhor tem em plenitude, como diz a Escritura: “Se a nossa morada terrestre, esta tenda, for destruída, teremos no Céu um edifício, obra de Deus, morada eterna, não feita por mãos humanas. Porquanto, todos nós teremos de comparecer manifestamente perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba a retribuição do que tiver feito durante a sua vida no corpo, seja para o bem, seja para o mal” (2Cor 5,1.10). Assim, em todo o nosso ser, corpo e alma, estaremos para sempre com o Senhor! Eis por que somos cristãos, eis por que temos esperança! Eis por que queremos viver com retidão, sobriedade, abertura de coração para os irmãos e santo temor em relação a Deus. É o que exprime ainda São Paulo na segunda leitura: “Nosso Senhor Jesus Cristo e Deus nosso Pai, que nos amou em Sua graça e nos proporcionou uma consolação eterna e feliz esperança, animem os vossos corações e vos confirmem em toda boa ação e palavra. O Senhor dirija os vossos corações ao amor de Deus e à firme esperança em Cristo!”

Caríssimos, em Cristo, se fomos criados para Deus, para a comunhão com Ele no Céu, tenhamos, no entanto, o cuidado de não O perdermos para sempre no inferno. O inferno existe, é real e pode ser nossa miserável herança! Pode dar-se que, logo após a minha morte, não exista nenhuma comunhão com o Cristo que é Vida, mas somente o “Apartai-vos de Mim, malditos! Não vos conheço”; e nossa alma caia na eterna tristeza, na depressão sem fim, que devora, como verme e queima como fogo! Não aconteça que, no fim dos tempos, também nosso corpo tenha de padecer também este triste destino!

Eis, amados em Cristo, que o Senhor nos adverte! Procuremos, pois, viver de tal modo, que possamos ser considerados dignos de viver para sempre com Ele. Para isso, pautemos nossa vida pelo amor e obediência ao Senhor. Assim poderemos dizer como o Salmista, tendo os olhos fixos em Cristo nosso Deus e nossa vida: “Os meus passos eu firmei na Vossa estrada,/ e por isso os meus pés não vacilaram./ Eu Vos chamo, ó meu Deus, porque me ouvis,/ inclinai o Vosso ouvido e escutai-me!/ Protegei-me qual dos olhos a pupila/ e guardai-me, à proteção de Vossas asas./ Mas eu verei justificado a Vossa Face/ e ao despertar me saciará Vossa presença!”

Que o Senhor, que tudo pode, confirme a nossa esperança! Amém.