Palmares, 05 de maio de 2024

Homilia para o XV Domingo Comum – ano c – Dom Henrique Soares da Costa

13 de julho de 2019   .    Visualizações: 850   .    Homilias

Dt 30,10-14

Sl 68 ou Sl 18B

Cl 1,15-20

Lc 10,25-37

A Palavra de Deus proposta neste Domingo é surpreendente. Tudo começa com uma pergunta que, apesar de ter sido feita para testar o Senhor Jesus, é válida, necessária, sempre urgente; pergunta que brota do mais profundo da nossa angústia: “Que devo fazer para receber a vida? Como devo viver para viver de verdade, para que minha vida valha a pena e não seja uma paixão inútil?” Apesar de um mundo que procura nos distrair dessa pergunta, não há como sufocá-la, como fazer de conta que ela não perturba nosso coração!

Pelo amor de Deus, responda o mundo tão animado e cheio de distrações: onde está a felicidade duradoura? Onde está a vida, a realização da existência? Que caminho seguir, para ser feliz de verdade?

Jesus, nosso Senhor, indica o caminho: “O que está escrito na Lei? Como lês?” – Aqui, há algo importantíssimo. O Cristo Jesus está falando com um escriba judeu; por isso, manda-o à Lei de Moisés. Uma coisa Ele quer deixar clara: a vida não está no homem, mas na vontade de Deus! O homem somente será feliz, somente encontrará verdadeiramente a Vida se procurar lealmente a vontade de Deus. Por isso, no Salmo 118, o Salmista pede, de modo comovente: “Sou apenas peregrino sobre a terra; de mim não oculteis Vossos preceitos!” Perder de vista o desígnio de Deus para nós, é perder de vista a própria vida, o sentido da existência!

Não esqueçamos, para não sermos enganados: fechados para a vontade do Senhor, não encontraremos a realização verdadeira! E este é o drama do mundo atual, que se julga maior de idade e, portanto, independente de Deus. Na verdade, é um mundo ateu, porque é um mundo autossuficiente, que só confia de verdade na sua filosofia, na sua tecnologia, na sua racionalidade pagã e na sua moral fechada para o Infinito!

Ao invés, o Cristo Senhor nos força a abrir o coração para o Alto, para o Altíssimo; convida-nos a respirar fundo o ar novo e puro, que brota das narinas de Deus e dá novo alento ao ser humano cansado e envelhecido pelo pecado! “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência”. Esta abertura para Deus dilata e realiza o coração humano, que foi criado para dar e receber amor, um amor pleno, amor na relação com Deus, que desemboca, generoso, no amor em relação aos outros: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. – “Faze isto e viverás!”

Os filósofos ateus dos últimos séculos – de Feuerbach aos louquinhos superficiais de hoje, de ateísmo de folhetim – gostam de insistir que Deus escraviza o homem, desumaniza a humanidade, impedindo-a de ser ela própria, de ser feliz. É mentira! É um triste mal-entendido! A verdadeira abertura para Deus nos faz crescer, nos faz superar nossos estreitos limites, nos lança de verdade em relação a Deus e nos compromete com os outros! Os mandamentos de Deus realizam o mais profundo anseio do nosso coração, que é a vida: “Converte-te ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração e com toda a tua alma! Na verdade, o mandamento que hoje te dou não é difícil demais, nem está fora do teu alcance!” O próprio Deus – acreditem – nos deu o desejo e a capacidade de amar ao nos criar à Sua imagem!

O nosso bendito Salvador insiste ainda em algo muito importante: nossa relação com Deus, se é verdadeira, deve abrir-nos aos irmãos: “Quem é o meu próximo?”– A resposta de Jesus é clara: nosso próximo são aqueles que a vida fez próximos de nós. Nosso próximo são os próximos! Ou os amamos de verdade, ou não há próximo para amar. O próximo viraria uma ideia abstrata e sem valor algum. Não esqueçamos: o próximo tem rosto, tem cheiro, tem problemas e, às vezes, nos incomoda, nos atrapalha, nos desafia, nos causa raiva e contradição. É este próximo, concreto como uma rocha, que eu devo amar! Um judeu deve amar o próximo como a si mesmo: é isto que está escrito na Lei do Antigo Testamento. Um cristão, não! Ele deve amar o próximo como Jesus, nosso Redentor: até dar a vida: “Amai-vos como Eu vos amei! Dei-vos o exemplo para que, como Eu vos fiz, façais vós também!” (Jo 13,34.15).

Recordemos que o próprio Senhor nos deu o exemplo; Ele mesmo Se fez próximo de nós: sendo Deus, Se fez homem, veio viver a nossa aventura, partilhar a nossa sorte, para nos dar a Sua Vida: “Cristo é a imagem do Deus invisível… porque Deus quis habitar Nele com toda a Sua plenitude”. Ele não viu nossa miséria de longe: Ele desceu e veio viver a nossa vida, fazendo-Se Deus conosco! Por isso, Ele é o verdadeiro Bom Samaritano, o verdadeiro modelo daquele que se faz próximo: viu-nos à margem do caminho da vida; viu-nos roubados e despojados de nossa dignidade de imagem de Deus; viu-nos totalmente perdidos… Ele Se compadeceu de nós, desceu à nossa miséria, fez-Se homem, para nos curar e elevar. Nele, se revela a plenitude do amor a Deus e aos outros: “Deus quis por Ele reconciliar Consigo todos os seres que estão na terra e no céu, realizando a paz pelo sangue da Sua cruz”. Então, somente em Cristo, encontramos a Vida verdadeira e a realização pela qual tanto almejamos. Só Ele nos reconcilia com Deus e no abre uns para os outros, aproximando-nos no Seu amor!

Quando os cristãos não conseguem viver isso, quando não conseguem deixar que essa realidade maravilhosa transpareça, é porque estão sendo infiéis, estão sendo uma caricatura de discípulos do Senhor Jesus. Que responsabilidade a nossa! Saiamos daqui, hoje, com essa pergunta: quem são os meus próximos? Que tenho feito com eles? De quem ando distante e devo me aproximar Pensemos em Jesus Cristo que veio ser próximo, e ainda se faz próximo, hoje, em cada Eucaristia. Pensemos Nele: “Vai, tu também, e faze o mesmo!” Amém.

Dom Henrique Soares da Costa

Bispo de Palmares

Fonte: https://visaocristadomhenrique.blogspot.com/2019/07/dt-3010-14-sl-68-ou-sl-18b-cl-115-20-lc.html?m=1