Ez 37,12-14
Sl 129
Rm 8,8-11
Jo 11,1-45
De hoje a oito entraremos na Semana Santa, com a solenidade dos Ramos e da Paixão do Senhor. Agora, neste último Domingo antes dessa Grande Semana, a Liturgia nos apresenta o Senhor Jesus como nossa Ressurreição e nossa Vida. Vida muito mais que a simples vida psico-biológica, vida muito mais que vida deste mundo, sustentada por nossas necessidades básicas; trata-se de Vida divina, Vida plena, Vida que nem a morte por destruir, Vida que recebemos no santo Batismo, Vida que nos vem como força na Crisma, Vida que comemos como alimento de Eternidade na Eucaristia. Eis a Vida: Jesus! Eis o que buscam os catecúmenos, aqueles que por toda a terra estão se preparando para receber, na próxima Solenidade pascal, os sacramentos da iniciação à vida cristã, a Vida em Cristo, no Batismo, na Crisma, na participação à Mesa eucarística!
Aqui, ao dizermos que Jesus é a Vida, não estamos falando de modo figurado, metafórico! Jesus é realmente, propriamente, a nossa Vida, a nossa Ressurreição!
Ele é o cumprimento do sonho de vida e felicidade que o Pai, desde o início, tem para nós: “Ó Meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel. Porei em vós o Meu Espírito, para que vivais!” É em Jesus que esta promessa se cumpre, é Nele, morto e ressuscitado, que somos arrancados das sepulturas da vida de pecado e da sepultura da morte; é no Seu Espírito Santo, derramado sobre nós, que o Pai nos vivifica!
Caríssimos, Jesus é a própria Ressurreição; Ele é a própria Vida, Vida plena, Vida divina, Vida eterna! Jesus é a plenitude desta nossa vida, da nossa existência: Nele, o nosso caminho termina não no Nada do absurdo, do vazio, mas na plenitude da Glória! Sem Ele, seríamos nada, sem Ele, tudo quanto vivemos terminaria no aniquilamento: “De que nos valeria ter nascido, se não nos redimisse em Seu amor?” – é o que vai perguntar a Liturgia da Igreja daqui a poucos dias, na noite da Páscoa. Num mundo que procura desesperadamente a vida, a felicidade; numa época como a nossa, em que se tem sede de um motivo para viver, de um sentido para a existência, Jesus Se nos apresenta como a própria Vida, Vida da nossa vida!
Mas, escutemo-Lo falar, Ele mesmo no Evangelho deste Domingo. Deixemos que Ele nos fale da vida, que Ele mesmo nos ensine a viver!
Lázaro encontrava-se doente, sofrendo; depois, morreu. Suas irmãs estavam sofridas, angustiadas, imploraram tanto pela vinda do Senhor para curar o irmão… E Jesus não foi; Jesus demorou-Se. Quantas vezes fazemos, nós também, esta mesma experiência em nossa vida. “Esta doença não leva à morte; ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela!” E, pensemos bem: Jesus era muito amigo de Marta, de sua irmã Maria e de Lázaro. Quando ouviu que estava doente, Jesus ficou ainda dois dias no lugar em que Se encontrava”… Os caminhos de Deus não são os nossos caminhos, os nossos tempos e modos não são os Dele. “Senhor, se estivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido…” Nesta queixa dolorida de Marta e Maria sentimos também as nossas queixas diante dos sofrimentos da nossa própria vida…
Jesus sentiu a morte de Lázaro: “ficou profundamente comovido” e chorou por Lázaro, mas não impediu sua doença e sua morte! Vede, irmãos: nosso Deus não é tapa-buracos; jamais compreenderemos o Seu modo de agir! Ele nos ama, Ele é fiel, Ele Se preocupa conosco, Ele conhece nossas dores. Mas, jamais compreenderemos totalmente Seu modo de estar presente no mundo e na nossa existência! O justo, o humilde crê; o ímpio declara, então: Deus não existe! Uma coisa é certa: se crermos, veremos sempre a glória de Deus, e em tudo no mundo e em tudo na nossa vida Deus será glorificado!
Então, Jesus consolou Marta e Maria. Jesus lhes prometeu a Ressurreição.
Como todo judeu, as irmãs esperavam a Ressurreição no Último Dia, no final dos tempos. Jesus, então, fez uma das revelações mais impressionantes de todo o Evangelho: “Eu Sou a Ressurreição! Eu Sou a Vida!” Atenção, Irmãos! Levemos a sério esta afirmação! Detenhamo-nos diante dela, admirados!
A Ressurreição que os judeus esperavam chegou: é Jesus, o Cristo do Pai!
A Ressurreição não é uma coisa, uma realidade impessoal, não é um força, não é uma energia da natureza, não é uma dinâmica nossa! Não! Nada disto!
A Ressurreição é uma Pessoa: ela tem coração, rosto, voz e amor sem fim! A Ressurreição é o Senhor Jesus em pessoa: “Eu sou a Ressurreição e a Vida! Quem crê em Mim, mesmo que esteja morto, viverá!”
Na hora tão dramática e misteriosa da nossa morte, é Ele, pessoalmente, com a força vivificante do Seu Espírito Santo, Senhor que dá a Vida, Quem vem nos buscar, é na força Dele que seremos erguidos da morte, é Nele que nossa vida é salva do Absurdo, do Nada, do Vazio: “quem vive e crê em Mim, não morrerá para sempre!”
Nunca será demais a surpresa, a admiração, a grandeza dessas palavras! Caríssimos, eis o Evangelho, eis a notícia, eis a novidade que dá sentido a toda uma vida: “Deus nos deu a Vida eterna, e essa Vida está no Seu Filho” (1Jo 5,11), esta Vida é o Seu Filho!
Amados no Senhor, estamos para celebrar a Páscoa. Não esqueçamos que é para que tenhamos esta Vida divina, a Vida eterna que o nosso Jesus Se entregou por nós: morto na carne foi vivificado no Espírito Santo pela Sua Ressurreição (cf. 1Pd 3,18). Ressuscitado, plenificado no Espírito Santo, Ele, o Vencedor da morte, derramou sobre nós esse Espírito de Vida, dando-nos, assim, a semente de Vida eterna: “Se o Espírito do Pai que ressuscitou Jesus dentre os mortos já habita em vós, então o Pai que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do Espírito que habita em vós!”
É esta a nossa esperança: a Ressurreição! Por ela vivemos, dela temos certeza; menos que isto não queremos, com menos que isto não estaremos satisfeitos! E já possuímos, como primícias, como garantia, pelos sacramentos da Igreja, o Espírito Santo de Ressurreição: é Ele a Vida do Cristo Jesus.
Então, vivamos uma vida nova, uma vida de ressuscitados em Cristo Jesus: “Os que vivem segundo a carne, segundo o pecado, fechados em si mesmos, não podem agradar a Deus! Vós não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito” do Cristo Jesus!
Então, vida nova! Deixemo-nos guiar pelo Espírito! Deixemo-nos renovar pelo Senhor! Convertamo-nos! Que as observâncias da santa Quaresma, a oração intensa e perseverante, o combate aos vícios, a abstinência dos alimentos e a confissão dos pecados nos preparem para celebrar de coração renovado a Santa Páscoa que já está bem próxima – esta, deste ano e aquela, da Vida eterna! Amém.
Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares
Fonte: Visão Cristã