Is 8,23b – 9,3
Sl 26
1Cor 1,10-13.17
Mt 4,12-23
A primeira leitura da Missa de hoje é, em parte, a mesma da Noite do Natal: “O povo que andava na escuridão viu uma grande Luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma Luz resplandeceu! Fizeste crescer a alegria e aumentaste a felicidade! Todos se regozijam em Tua presença”. Irmãos, esta Luz que ilumina as trevas, que dissipa as sombras da morte, que traz a felicidade, que ilumina todo homem que vem a este mundo (cf. Jo 1,9), é Jesus, nosso Senhor. O texto do Evangelho que escutamos no-lo confirma: Cristo Jesus é a bendita luz de Deus que brilhou neste mundo! Ele mesmo afirmou: “Eu sou a luz do mundo! Quem Me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da Vida!” (Jo 8,12). Já escutamos tanto afirmações assim, que corremos o risco de não perceber o quanto são revolucionárias, o quanto nos comprometem, o quanto são capazes de transformar a nossa vida!
A Palavra de Deus nos ensina que o mundo é marcado pelas trevas: trevas na natureza (como as catástrofes naturais ou a violência que nela encontramos), trevas na história, trevas no coração da humanidade e de cada um de nós. Olhemos em volta! O mundo não é bonzinho: há forças destrutivas, caóticas, desagregadoras, forças diabólicas, que destroem a alegria de viver e ameaçam devorar o sentido da nossa existência… Em nossos dias, tantos e tantos há que julgam poder passar sem Deus, avaliam que a religião é uma bobagem e uma humilhação para a razão do homem… Há tantos que zombam de Deus, do Cristo Jesus, da Igreja, de quem é católico piedoso e deseja levar a sério a prática da sua fé… Há marcas de trevas no mundo, na humanidade, na Igreja… Basta pensar nas divisões e partidos da Igreja de Corinto, na segunda leitura da Missa de hoje…
Pensemos bem: O que vale no mundo atual? O que é importante? O que conta realmente? Eis: o sucesso, os bens materiais, a aparência de poder, de bens, de felicidade, o prazer e a curtição da vida ao máximo, sem limites, sem peias… Será que não nos demos conta ainda de que vivemos num mundo novamente paganizado, novamente bárbaro, novamente entregue ao seu próprio pensar tenebroso? Será que não percebemos que o que vemos e lemos e ouvimos dos meios de comunicação, de modo geral, é a defesa de uma humanidade sem Deus e sem fé, de uma humanidade que tenha somente a si própria como deus? O Ocidente atual rejeita o Reino de Deus e proclama o absoluto reino do homem! Num mundo assim, Jesus nos diz, Jesus proclama, Jesus insiste a todos: “Eu sou a Luz!” A verdadeira luz não está nas universidades, a luz que ilumina os corações não está nos famosos deste mundo, a luz que esclarece o sentido da vida e dos acontecimentos não está nos que têm o poder político, econômico ou social! A Luz é Cristo! Só Ele nos ilumina, só Ele nos revela o sentido da existência, só Ele nos mostra o caminho por onde caminhar! Ser cristão é crer nisto, é viver disto, é colocar-se verdadeiramente no seguimento do Cristo Senhor como Pedro e André, como os filhos de Zebedeu…
Pois bem: este Jesus, Cristo de Deus, hoje, no Evangelho, nos convida a convertermo-nos a Ele, a segui-Lo de verdade, a colocar os passos de nossa vida no Seu caminho: “Convertei-vos! O Reino dos Céus está próximo!” Eis o apelo que o Salvador nos faz – far-nos-á sempre! Converter-se significa deixar-nos a nós mesmos, significa mudar totalmente o rumo de nossa existência, alicerçando-a no Salvador e não em nós, abraçando o Seu modo de pensar e deixando o nosso, seguindo a Sua Palavra e não nossa razão estreita, nossas ideias, nossa cabeça dura, nosso entendimento curto! Quem vai arriscar? Quem vai caminhar com Ele? Quem vai abraçar Sua Palavra, tão diferente do que o mundo quer, do que o mundo prega, do que o mundo valoriza? Quem vai deixar as redes, a barca, os laços da carne?
“Convertei-vos!” O nosso Jesus nos exorta porque sabe que também nós andamos em trevas, quando caminhamos na nossa própria luz; também nós, simplesmente entregues à nossa vontade e aos nossos pensamentos, jamais poderemos acolher o Reino dos Céus! Não nos iludamos! Não pensemos que somos sábios, centrados e imunes! Somos, nós também – todos nós! –, cegos, curtos de entendimento, pecadores duros e teimosos! Nosso coração é embotado por tantas paixões e por tantas cegueiras!
“Convertei-vos!” Os programas dos governos, os projetos da ONU, o pensamento dos formadores de opinião, de modo geral, tomam suas decisões e apresentam seus objetivos sem levar em conta Deus e o Seu Cristo. Para eles, o homem é o critério, o homem é o absoluto, o homem é o dono da verdade, o senhor dos planos… Compreendeis, irmãos? O mundo vai caminhando para um lado; Jesus, nosso Senhor, convida-nos a ir para o outro, para aquele do Reino dos Céus, aquele em que o critério é a Palavra do Cristo, o caminho do Cristo, o exemplo do Cristo, a obediência até a Cruz e a Ressurreição como o nosso Jesus as viveu! Converter-se é pensar diferente de nós mesmos e do mundo; é andar na contramão para caminhar com Cristo! Converter-se é deixar-se, como aqueles quatro primeiros do Evangelho de hoje que, “imediatamente deixaram as redes… deixaram a barca e o pai” e seguiram o Senhor!
Caríssimos, como não recordar a exortação do Apóstolo? “Não andeis como andam os pagãos, na futilidade de seus pensamentos, com entendimento entenebrecido, alienados da Vida de Deus!” (Ef 4,17). Quando aceitamos este desafio, este convite, o sentido de nossa existência muda, porque começamos a enxergar e avaliar as coisas de um modo novo, um modo diferente: o modo de Cristo Jesus! Aí se realiza em nós a palavra da Escritura: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor! Andai como filhos da luz!” (Ef 5,8). Sim! Viveremos na verdade, caminharemos na luz!
Caríssimos, deixar-se iluminar pelo Senhor, permitir que Ele dissipe nossas trevas, é um trabalho, um processo que dura toda a nossa peregrinação neste mundo. Jamais estaremos totalmente convertidos, totalmente iluminados. Na segunda leitura da Missa, São Paulo convidava os cristãos de Corinto à conversão para uma vida de união e de amor. É assim: a Igreja toda inteira e cada um de nós, pessoalmente, seremos sempre chamados a essa mudança, a esse deixar que a luz de Cristo invada a nossa existência tenebrosa!
Nunca esqueçais, caríssimos, porque é verdade: “Outrora, sem Cristo, éreis trevas, mas, agora, sois luz no Senhor! Andai, pois, como filhos da Luz!” Seja este o nosso trabalho, seja essa a nossa identidade, seja essa a nossa herança, seja essa a nossa recompensa! E que o Senhor nos socorra com a força da Sua graça, Ele que é fiel e bendito para sempre! Amém.
Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares
Fonte: Visão Cristã