Palmares, 21 de novembro de 2024

Homilia para o II Domingo Comum – Ano A

18 de janeiro de 2020   .    Visualizações: 1065   .    Homilias

Is 49,3.5-6
Sl 39
1Cor 1,1-3
Jo 1,29-34

Na segunda-feira passada, entramos no Tempo Comum. Hoje, com este Domingo, estamos iniciando a segunda semana deste Tempo verde; verde de quem caminha no pequeno dia-a-dia cheio de esperança, porque sabe que o Filho de Deus veio habitar entre nós, entrou nos nossos tempos para santificar os pequenos e aparentemente insignificantes momentos de nossa vida: “O Verbo Se fez carne e armou Sua tenda entre nós” (Jo 1,14). Para nós, nunca mais o tempo, a vida e a história humana serão a mesma coisa! Agora, tudo tem o gosto da presença de Deus, nossos tempos têm sabor de eternidade, perfume da Vida de Deus, do companheirismo misericordioso de Deus. Recordais o nome do Menino? “Emanuel, que significa Deus está conosco” (Mt 1,23). Então, que este Tempo Comum seja, para todos quantos, tempo de graça, tempo de vigilância amorosa, tempo de esperança invencível, tempo de generosa e operante disponibilidade para com o Senhor Emanuel, pois Emanuel Ele nunca deixará de ser! Até mesmo no momento de voltar para o Pai, na Ascensão, Ele afirmou: “Eis que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!” (Mt 28,20). Vedes que fidelidade em estar conosco? Imitemos, portanto, tamanho amor, e estejamos com Ele nos dias da nossa vida, especialmente nos tempos deste Tempo Comum, este período de trinta e quatro semanas verdes!

Neste segundo Domingo Comum, a Palavra de Deus ainda nos liga ao Batismo do Senhor, celebrado no Domingo passado. Recordemo-nos do que vimos na Festa que encerrou o santo Tempo do Natal: Jesus, nosso Senhor, fora batizado por João Batista e ungido pelo Pai com o Espírito Santo como Messias de Israel: “Este é o Meu Filho amado, no qual Eu pus o Meu Bem-querer!” (Mt 3,17). Recordemos que o Pai Lhe revelou o caminho pelo qual Ele deveria passar para cumprir sua missão:

o caminho do Servo Sofredor de Isaías, pobre e humilde: “Ele não clama nem levanta a voz, nem Se faz ouvir pelas ruas”.

Servo manso e misericordioso: “Não quebra a cana rachada nem apaga o pavio que ainda fumega”.

Servo perseverante no serviço de Deus: “Não esmorecerá nem Se deixará abater”.

Servo que será redenção para o Povo de Israel e para todas as nações, dando-lhes a luz, o perdão e a paz: “Eu o Senhor, Te chamei para a justiça e Te tomei pela mão; Eu Te formei e Te constitui como Aliança do Povo, luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirar os cativos das prisões, livrar do cárcere os que viviam nas trevas!” (Is 42,2-4.6-7).

Pois bem, o Evangelho de hoje aprofunda ainda mais este quadro impressionante, que nos revela a missão de Cristo Jesus: “João viu Jesus aproximar-se dele e disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” Em aramaico, língua que João e Jesus falavam, “cordeiro” diz-se talya, que significa, ao mesmo tempo “servo” e “cordeiro”. Então, “eis o Cordeiro-Servo de Deus, que tira o pecado do mundo!”

Mas, que Cordeiro? Aquele, expiatório, que segundo Levítico 14, era mandado para o deserto, colocado fora da cidade, carregando os pecados de Israel… Como o nosso Jesus, que “para santificar o Povo por Seu próprio sangue, sofreu do lado de fora da porta” (Hb 13,12) de Jerusalém, como um rejeitado, um condenado, um renegado.

Repitamos a pergunta: Que Cordeiro? Aquele cordeiro pascal de Ex 12, cujos ossos não poderiam ser quebrados (cf. Jo 19,36); cordeiro comido como Aliança de Deus com Israel!

Que Cordeiro? – insistamos na pergunta! Aquele, cujo sangue, aspergido sobre o Povo, selara a nova e eterna Aliança entre Deus e o Povo santo (cf. Ex 24,8; Mt 26,27).

Jesus Cristo é esse Cordeiro de Deus, que tira todo o pecado do mundo, tomando-o sobre si!

E que Servo? O Servo sofredor anunciado pelo Profeta Isaías. Já ouvimos falar Dele no Domingo passado; fala-nos dele novamente a liturgia deste Domingo hodierno:

Servo predestinado desde o nascimento: o Senhor “Me preparou desde o nascimento para ser Seu Servo”;

Servo destinado a recuperar e salvar Israel: “que Eu recupere Jacó para Ele e faça Israel unir-se a Ele; aos olhos do Senhor esta é a Minha glória”;

Servo destinado não só a Israel, mas a todas as nações: Não basta seres Meu Servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os remanescentes de Israel: Eu Te farei luz das nações, para que Minha salvação chegue aos confins da terra”.

Eis, portanto, quem é o nosso Jesus: o Cordeiro, o Servo, o Cordeiro feito Servo, o Servo feito Cordeiro! Nele, feito homem, Nele, sofrido como nós, Nele, morto e ressuscitado, no Seu corpo macerado e transfigurado em Glória, Deus reuniu e formou um novo Povo, o verdadeiro Israel, a Igreja, ambiente ungido pelo Espírito Santo, onde encontramos a verdadeira paz com Deus através de Cristo(cf. Ef 2,14-16) – esta que aqui está reunida em torno do Altar e esta mesma, reunida em toda a terra e, como diz São Paulo hoje, “em qualquer lugar” onde o Nome do Senhor Jesus é invocado! Eis: este Povo que Cristo veio reunir, esta Igreja que o Senhor veio formar, somos nós, já santificados no Batismo e chamados a ser santos por nosso procedimento, por nosso seguimento ao Senhor! (cf. 1Cor 1,2)

João reconheceu em Jesus este Messias, tão humilde e tão grande: Ele é o próprio Deus: “passou à minha frente porque existia antes de mim!” E como Deus feito homem, Ele é o único e absoluto Salvador de todos – e não há salvação sem Ele ou fora Dele! Qualquer filho de Adão, qualquer filha de Eva que sejam salvos, somente por Ele e Nele podem alcançar esta salvação! O Batista reconhece Nele o Ungido, Aquele sobre Quem o Espírito “desceu e permaneceu”. O próprio Senhor Jesus daria testemunho desta realidade: “O Espírito do Senhor repousa sobre Mim, porque Ele Me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-Me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc 4,18-19). João reconhece Nele ainda Aquele que, cheio do Espírito Santo, batizaria no Espírito Santo: “Aquele sobre Quem vires o Espírito descer e permanecer, Este é o que batiza com o Espírito Santo”. Batizando-nos no Espírito, este Santíssimo Jesus-Messias dá-nos o perdão dos pecados, concede-nos o dom inestimável da Sua própria Vida divina e a graça de, um dia, ressuscitar dos mortos!

Enfim, João dá testemunho de que esse Jesus bendito é mais que um Servo, mais que um Cordeiro, mais que um Profeta: Ele é o Filho de Deus: “Eu vi e dou testemunho: Este é o Filho de Deus!” Eis: Ele é o Filho amado que, no credo da Igreja católica e apostólica, proclamamos Deus vindo de Deus, Luz vinda da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, Filho unigênito do Pai!

Que mais dizer, ante um Messias tão humilde e tão grande?

– Senhor Jesus Cristo, Santo Messias, Servo e Cordeiro de Deus,

cremos em Ti, a Ti seguimos, em Ti colocamos nossa vida e nossa morte!

Sustenta-nos, pois em Ti esperamos:

Tu és o sentido de nossa existência, a razão de nossa vida e o rumo da nossa estrada!

Queremos seguir-Te, a Ti, tão pequeno e tão grande;

queremos morrer Contigo e Contigo ressuscitar para a Vida eterna;

queremos ser testemunhas do Reino do Pai que verdadeiramente inauguraste com Tua bendita Vinda.

Senhor Jesus, Ungido, Messias, de Deus, a Ti amamos, em Ti esperamos, em Ti vivemos!

Sê bendito para sempre, de eternidade em eternidade. Amém.

Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares


Fonte: Visão Cristã