Palmares, 21 de novembro de 2024

Meditação para o XVII Domingo Comum – ano a

26 de julho de 2020   .    Visualizações: 599   .    Homilias

1Rs 3,5.7-12
Sl 118
Rm 8,28-30
Mt 13,44-52

Continuamos, neste hoje, a escutar Jesus falando-nos do Reino dos Céus.

Saído do barco à beira-mar, chegado em casa, Ele nos conta ainda três parábolas:

O Reino dos Céus é como um tesouro escondido num campo; um homem o encontra e, cheio de alegria, vende tudo e o adquire!

O Reino dos Céus é como uma pérola de grande valor; o homem vende tudo e, fascinado por sua beleza, vende tudo e a adquire…

Observem, irmãos, que Jesus nos quer fazer compreender que quem encontra o Reino, sai de si! Encontra o sentido da vida, encontra aquilo por que vale a pena viver. Quem de verdade encontra o Reino, quem o experimenta, muda para sempre sua existência: vai ligeiro, vende tudo, fica cheio de alegria!

Encontrar o Reino é encontrar Jesus, e encontrar Jesus de verdade é encontrar a razão de viver, o sentido da existência, é encontrar-se consigo mesmo! Quem encontra o Reino assim, se encontra, parte de si mesmo e vai viver de verdade!

Quantos cristãos experimentaram isso, quantos fizeram-se loucos, pareceram loucos, por amor de Cristo! Quantos jogaram fora amores, família, projetos, bens materiais… O que os levou a isso? O que aconteceu com Santo Antão, que vendeu todos os bens e deu aos pobres e foi viver no deserto, sozinho? O que aconteceu com Francisco de Assis? O que aconteceu com Santa Teresa de Calcutá ou com a Bem-aventurada Ir. Dulce? O que aconteceu com aquele moço que largou tudo e foi ser religioso, com aquela moça sem juízo que entrou numa comunidade de vida? O que aconteceu com aquele casal, que mudou seu modo de viver, seu círculo de amizade, que deixou suas badalações? O que aconteceu com São Maximiliano Kolbe, que entregou a vida no lugar de um pai de família? Com São José de Anchieta, que deixou sua pátria e se embrenhou no Brasil selvagem para anunciar Cristo aos índios? O que aconteceu com todos esses? Eles descobriram o tesouro, eles encontraram uma pérola de valor imensurável, eles experimentaram a paz, a doçura, a verdade do Reino dos Céus!

Meus caros, estejamos atentos! Quem é mole nas coisas de Deus, quem é pouco generoso no seguimento de Cristo, quem sente como um fardo os apelos do Senhor, não experimentou ainda, não encontrou o tesouro, não viu a pérola de grande valor, não descobriu de verdade o Reino dos Céus! Cristãos cansados, cristãos sem entusiasmo, cristãos pouco generosos, cristãos com uma lógica igual à do mundo são cristãos que nunca – nunca! – experimentaram a paz do Reino, a beleza do Reino, a doçura do Reino, a plenitude do Reino que Jesus nos mostra e nos dá!

Atentos, irmãos: pode-se ser cristão e nunca ter experimentado o Reino! Pode-se ser ministro ordenado ou religioso sem nunca ter descoberto o Reino… Aí, já não há alegria, já não há entusiasmo, já não se corre, se arrasta, se rasteja!

O Reino tem pressa, o Reino faz vibrar, o Reino nos impele porque descobrir o Reino e experimentar o amor de Deus em Jesus Cristo! Quantos de nós se entusiasmam com tantas coisas e são tão lerdos quando se trata do Senhor e do seu Reino… Não seríamos nós um desses?

E, no entanto, o sonho de Deus é que todos possam encontrar o seu Reino; para isso Ele nos criou, para isso nos destinou. Escutemos o Apóstolo: “Pois aqueles que Deus contemplou com Seu amor desde toda eternidade, a esses Ele predestinou a serem conformes à imagem do Seu Filho… E aqueles que Deus predestinou, também os chamou. E aos que chamou também os tornou justos, e aos que tornou justos também os glorificou”.

Isto nos coloca diante de duas realidades, caríssimos.

Primeiro: o dever que temos de anunciar o Reino a toda a humanidade! A Igreja é missionária, anunciadora do Reino dos Céus! Uma Igreja que não tenha o desejo, que não sinta a necessidade de levar Jesus aos que ainda não O conhecem, é uma Igreja morta, uma Igreja que já não experimenta a alegria de crer, uma Igreja sem o Espírito do Ressuscitado!

Estejamos atentos: há tantos em terras distantes e tantos bem próximos de nós que não tiveram ainda a alegria do Reino dos Céus, pois que não encontraram o tesouro, na viram a pérola de grande valor! Ai de nós se não anunciarmos a esses a Boa Nova do Reino dos Céus!

Nunca esqueçamos: quem encontra algo de muito bom, sente o desejo de comunicar, de partilhar, de tornar conhecido aos demais. Se em nós não há ímpeto missionário, é porque não encontramos, de verdade, a o Reino e sua alegria! Pensemos bem!

Mas, há uma segunda realidade, que precisamos levar em conta. Descobrir o Reino exige um olhar iluminado pela graça de Deus. Sozinhos, com nossas próprias forças, somos incapazes de discernir essa presença do Reino! Por isso é necessário suplicar, como Salomão, um coração para compreender: “Dá ao Teu servo um coração compreensivo – um coração que escute!” No Evangelho de hoje, Jesus termina perguntando: “Compreendeste essas coisas?”

– Senhor, pedimos-Te nós, dá-nos um coração capaz de compreender! Sem Teu auxílio ninguém é forte, ninguém é santo! Mostra-nos o tesouro, que é o Teu Reino! Faz-nos encontrar a pérola de grande valor, pela qual vale a pena perder tudo e todo nela encontrar! Faz-nos sentir que, pelo Reino, vale a pena deixar redes, barcos, a vida perder; deixar a família e dinheiro não ter!

Concluamos, agora, com a última, das sete parábolas: O Reino dos Céus é como uma rede jogada no mar deste mundo… Ela apanha todo tipo de peixe – apanhou a mim, a você… Olhem a Igreja, olhem a nossa comunidade: há de tudo! Todo tipo de gente, todo tipo de cristão: definitivamente, a Igreja de Cristo não é uma comunidade de santinhos! Mas, um dia, no Dia de Cristo, a rede será puxada para a margem e os peixes bons serão recolhidos nos cestos do Senhor e os peixes ruins serão lançados fora, para o fogo queimar… Eis como Jesus termina! Prevenindo-nos de que é necessário decidir-se pelo Reino, que nossa vida valerá ou não a pena, terá ou não sentido dependendo de nossa atitude em relação ao Reino que Ele veio anunciar… Não esqueçamos, não brinquemos, não nos façamos de desentendidos: um dia a rede chegará à praia… O Senhor a está puxando… Um dia haverá o tremendo juízo de Deus! Que neste tremendo Dia, sejamos recolhidos nos cestos do Coração de Deus e não jogados fora, onde só há trevas exteriores ao Reino, onde só há choro e ranger de dentes, onde o fogo destruidor do lixo queimará eternamente!

Irmãos, irmãs! “Compreendestes tudo isso?” Se o compreenderdes, felizes sereis! Que o Senhor no-lo conceda, Ele que Reina para sempre. Amém.

Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares