Palmares, 21 de dezembro de 2024

Em Cristo, a possibilidade de uma Vida realmente nova

20 de abril de 2020   .    Visualizações: 804   .    Palavra do Bispo

Tome, Irmão, a Palavra das Escrituras, tão próprias para este Tempo Pascal: Cl 2,12-14. Aí, São Paulo faz três afirmações de profunda penetração teológica:

1. “Com Cristo fostes sepultados no Batismo; com Ele também fostes ressuscitados por meio da fé no Poder de Deus, que ressuscitou a Cristo dentre os mortos”.

Nunca será demais repetir e incutir no coração do Povo de Deus que os sacramentos não são simples cerimônias nem recordações meramente afetivas ou devocionais de Jesus, nosso Senhor. Ou, pior ainda: sacramento não é mágica, não são cerimônias privadas, festas sentimentais de família, celebrações íntimas e emotivas!

Eles são os sagrados mistérios, que realizam em cada cristão e na Igreja toda o Mistério salvador do próprio Cristo Jesus: celebrando-os, a Páscoa de Cristo, torna-se páscoa nossa; celebrando-os, a Vida do Cristo ressuscitado nos é dada verdadeiramente, já neste vida, como penhor da Vida eterna! Nos sacramentos, recebemos de modo próprio a cada um deles, o Espírito do Cristo imolado e ressuscitado, que nos dá a Sua Vida e nos configura a Ele, nosso Salvador e modelo.

É o caso do Batismo, de que fala o Apóstolo aqui: realmente por obra do “Poder de Deus” (que é o Espírito Santo), fomos realmente sepultados com Cristo na Sua morte e, com Ele, ressuscitados, já recebendo, aqui e agora, as primícias da Vida eterna, Vida divina.

Primeiro cremos (“por meio da fé”, diz São Paulo). Crendo, pedimos o Batismo, sacramento da fé, que nos dá o Santo Espírito, simbolizado e transmitido verdadeiramente pela água batismal.

O que esse Espírito faz em nós? Faz-nos primeiramente participantes da Morte de Cristo, mergulha-nos realmente, misteriosamente, na Sua Morte:

a. O homem velho começa a morrer em nós, pois a presença do Espírito abre-nos para Deus, corrigindo o fechamento próprio da nossa natureza pecadora. Esta bendita, eficaz e santa realidade iniciada no Batismo, prosseguirá, como um processo, por toda a duração da nossa existência neste mundo, até desabrochar plenamente na Glória!

b. As mortes (contradições e negatividades) da vida, vamos, então, vivenciando-as em união com Cristo, vamos morrendo com Ele, fazendo de tudo isso uma participação na Sua Morte redentora e sacerdotal. Assim, já não somos mais nós que vivemos, que sofremos, que lutamos, que adoecemos, que vencemos ou perdemos, mas é Cristo em nós! É toda a nossa existência que vai sendo conformada a Cristo Jesus, nosso Senhor! Nossa vida vai se tornando realmente vida em Cristo!

c. Mas também, com Ele, tudo isso vai se tornando vida nova, modo de viver que já nos prepara para a Vida eterna. É um mistério estupendo: já neste mundo, desde o Batismo, a Páscoa de Cristo vai acontecendo em nós, fazendo seu caminho na nossa vida – e isto é uma realidade enorme na nossa pobre existência: nosso viver se torna viver com Cristo, viver por Cristo, viver em Cristo, realmente! Podemos dizer, já agora: vivo com Cristo, com Cristo vou vivendo e morrendo com Cristo, até que a sua morte opere totalmente em mim e a Sua Vida ressuscitada me transfigure totalmente na hora final da minha Páscoa deste mundo para o Pai!

2. “Ora, vós estáveis mortos por causa dos vossos pecados, e vossos corpos não tinham recebido a circuncisão, até que Deus vos trouxe para a Vida, junto com Cristo, e a todos nós perdoou os pecados”.

É a confirmação do que afirmei logo acima: estávamos numa vida de morte, pois o pecado, a vida sem Deus nos mata ao tirar o verdadeiro sentido da existência: sem Deus, o homem não tem consistência e a vida padece de falta de um sentido mais profundo, que lhe dê um sentido global. Viver longe de Deus é viver na ilusão, na superficialidade, na morte. E aqui, não nos iludamos: não nascemos filhos de Deus, mas, por natureza “filhos da ira” (cf. Ef 2,3). Sem crermos em Jesus e receber o Seu Batismo, a ira de Deus permanece sobre nós (cf. Jo 3,36). Sem Cristo, estávamos mortos nos nossos pecados, sem Deus e sem esperança no mundo (cf. Ef 2,12). É somente em Cristo que a Vida divina e a divina Filiação nos são dadas no Seu Espírito Santo no Batismo!

Quando São Paulo diz que nossos corpos não tinham recebido a circuncisão, ele recorda que os colossenses, como também nós, não sendo judeus, não tinham a graça de ser Povo da Aliança. Ora, agora, com Cristo, batizados no Seu Espírito, o importante não é mais ser judeu ou grego, escravo ou livre: o que importa é, pela fé, aderir a Cristo e Nele ser batizados, sendo Nele mortos e ressuscitados!

3. “Existia contra nós uma conta a ser paga, mas Ele a cancelou, apesar das obrigações legais, e a eliminou, pregando-a na Cruz”.

O Apóstolo recorda a gravidade da situação humana: havia contra nós uma sentença de morte; “éramos, por natureza, filhos da ira” (Ef 2,3) e de Deus, éramos “inimigos, pelo pensamento e pelas obras más” (Cl 1,21) e a “ira de Deus” permanecia sobre nós (cf. Jo 3,36). Cristo rasgou esta sentença de morte na Sua bendita e salvífica Cruz! É importantíssimo observa como toda a nossa salvação depende de Cristo, está incluída na vitória Dele, é consequência dessa Sua vitória: “Nele fostes circuncidados” na circuncisão nova, que é o Batismo; “fostes sepultados com Ele” nas águas do Batismo, como Ele mesmo fora sepultados nas águas tremendas da morte; fomos vivificados “juntamente com Cristo”, saindo daquelas águas cheios do Espírito Santo, como o Cristo saiu da morte totalmente transfigurado na glória do Espírito do Pai!

Hoje, por infelicidade, há uma grande tendência a esquecer esta tremenda situação de pecado, escuridão e afastamento natural de Deus no qual a humanidade sem Cristo se encontra. Assim, também é impossível contemplar a novidade e a força, a graça e a bênção que significam a salvação em Cristo! Infelizmente, a ideologia do relativismo, do politicamente correto, do bom-mocismo e do multiculturalismo tende a enganar, insinuando que a humanidade é boazinha e tudo que ela produz é bom; cego e pervertido seria quem não visse a natural bondade da nossa cultura, tão livre, espontânea e cheia de boas intenções… Ora, isso é falso e contrário à concepção cristã! A humanidade, criada boa e essencialmente boa, é, no entanto, ferida, pervertida e, sozinha, não se encontra nem encontra o caminho; a humanidade é um poço de contradições (cf. Rm 7,14-25)… Somente em Cristo o homem encontra o perdão dos pecados e a paz com Deus, somente em Cristo o homem recebe a Vida eterna (cf. Jo 17,3; Ef 1,7)! Não há salvação possível fora de Cristo e Cristo é o único Salvador que Deus deu à humanidade: crer Nele e a Ele aderir é o caminho que Deus sonhou e deseja para todo homem que vem a este mundo (cf. Jo 1,9; 17,3; At 4,12)!

Medite sobre estas palavras do santo Apóstolo. Que cresça sempre mais nossa fé, nosso amor, nossa adesão total e incondicional ao Cristo, nosso Deus Salvador! Ele, ressuscitado dentre os mortos, Vencedor do pecado e da Morte, é o Homem Novo que salva, redime e renova verdadeiramente a humanidade: “Se alguém está em Cristo é nova criatura. Passaram-se as coisas antigas; eis que se fez realidade nova. Tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou Consigo por Cristo” (2Cor 5,17s).

Portanto, hoje e sempre: Páscoa de Cristo, Páscoa da Igreja, nossa Páscoa, recebida no Batismo e celebrada, sempre nova, em cada Eucaristia! Feliz Páscoa, queridos Irmãos! Cristo ressuscitou! Ressuscitou verdadeiramente, aleluia!

Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares


Fonte: Visão Cristã