Meditação XXXV: O Senhor Me chamou; fez-Me luz das nações
Reze o Salmo 119/118,97-104
Agora, medite e reze, pensando em Jesus Nosso Senhor, em Is 49,1-9.
1. Este é o segundo cântico do Servo Sofredor. Se no primeiro, o Deus de Israel apresentava o Seu Servo, agora, neste, é o próprio Servo Quem toma a palavra. Já vimos: o Servo é o Messias, e Ele personifica em Si, concentra em Si, recapitula em Si todo o Israel do Antigo Testamento. Veja Os 11,1: “Quando Israel era um menino, Eu o amei e do Egito chamei Meu filho”; compare com Mt 2,13-15, que fala de Jesus nosso Senhor: “Ali ficou até a morte de Herodes, para que se cumprisse o que dissera o Senhor por meio do profeta: ‘Do Egito chamei o Meu Filho!’’ Vê? Em Jesus, Israel é cumprido, é realizado! É assim: em Jesus nosso Senhor todo Israel é assumido e salvo; e não somente Israel, mas também toda a humanidade, já que Ele é também o Novo Adão, o Homem Novo (cf. 1Cor 15,20-22), imolado e ressuscitado, plenificado em Sua santa humanidade, Ele é o Adão celeste, o Homem que vem do Céu e enche de Espírito de Glória eterna todo aquele que Nele crê e Nele é batizado (cf. 1Cor 15,45-49)! Tudo quanto o Senhor nosso viveu, fê-lo por Israel e por toda a humanidade. Ele é o Salvador de todos, o Redentor do mundo!
2. Agora, neste segundo cântico, o Servo dirige-Se a todos os povos da terra; Ele não veio somente para Israel; sua missão é universal! Veja os vv. 1.6! “Ilhas!”, nas Escrituras, significa muitas vezes as nações mais distantes, os lugares mais recônditos da terá. Observe bem o v. 6. Compare com Lc 2,29-32! Jesus é o Servo! Nos vv. 1b e 5, Ele Se apresenta como Aquele que foi chamado pelo Senhor desde o seio materno. Nos evangelhos, Jesus nosso Senhor apresenta-Se muitas vezes como o Enviado do Pai e refere-Se ao Pai como “Aquele que Me enviou”(cf. Mc 9,37; Mt 10,40, Jo 16,5.27s). O que impressiona muito, nestes cânticos, é o alcance da missão do Servo: é universal; atinge as ilhas e os povos distantes! O Senhor Deus de Israel tem, agora, uma palavra para toda a humanidade, uma palavra de salvação, de perdão dos pecados, de Vida divina! Isto é impressionante e mostra o quanto o cristianismo finca suas raízes no Antigo Testamento! Reze o Sl 47/46.
3. Veja como no v. 2 o Servo, tão manso e humilde no primeiro cântico, é também forte, é uma verdadeira arma do Senhor Deus, arma de salvação: Ele é uma espada cortante, uma seta afiada escondida na aljava do Senhor Deus! Mas, toda esta força não está isenta de sofrimentos, lutas e tentação de desânimo. A vocação do Servo é vivida numa luta constante, renovando sempre a confiança em Deus! Leia os impressionantes vv. 3-5. No v. 3, o Servo recorda a Sua vocação: o Senhor Deus, que O escolhera pelo nome desde o seio materno e fizera Dele uma arma potente, agora, confirma a Sua vocação: “Tu és o Meu Servo, em Quem serei glorificado!” Toda vocação, toda vida de um verdadeiro servo do Senhor é para a glória de Deus! Leia Rm 14,7-8. No v. 4, o Servo abre o Seu Coração ao Deus vivo: derrama diante do Senhor a Sua luta, o Seu cansaço, a tremenda sensação de estar trabalhando em vão, gastando sonhos, energias e forças para nada! No entanto, observe como este Servo bendito, para além de todo sentimento e sensação, continua a colocar a confiança no Senhor, sabendo que pode contar com a Sua proteção e Sua recompensa! No v. 5, o Senhor Deus confirma a vocação do Servo em toda a sua extensão: para além de Israel, Ele levará a salvação de Deus até os confins da terra! Reze o Sl 98/97.
Tomando tudo isto em consideração, pense bem e reze: o Servo foi fiel, o Servo combateu o combate do Senhor… A Igreja, no tempo da Quaresma, repete sempre: “Cristo por nós foi tentado, sofreu e na Cruz morreu…” A Liturgia repete também, muitas vezes, as palavras de Fl 2,8: “Cristo por nós Se fez obediente até a morte e morte de Cruz”… E eu? E você? Escute: “Não te envergonhes de dar testemunho de nosso Senhor! Participa do meu sofrimento pelo Evangelho, confiando no poder de Deus! Assume a tua parte de sofrimento como bom soldado de Cristo!” (2Tm 1,8; 2,3)… Aprendamos com o Senhor Jesus a colocar nas mãos do Pai as nossas lutas, os nossos momentos de desânimo e de medo! O Filho eterno do Pai sofreu tudo isto! Quando confiamos no Senhor e Nele nos abandonamos, retomamos a força com vigor renovado e cumprimos a missão que o Senhor nos confia. Leia Is 40,40,28-31 e Hb 5,7-10! Quão alto foi o preço da nossa salvação!
4. Já aqui, neste segundo cântico, aparece o quanto o Servo irá sofrer e ser desprezado (cf. vv. 4.7) e, depois, precisamente pela Sua fidelidade ao Senhor Deus, mesmo na dor e na provação, será exaltado, salvando Israel e toda a humanidade (cf. vv. 6-9)… Não existe caminho fácil na obra de Deus! Como dizem os Atos dos Apóstolos, “é preciso passar por muitas tribulações para entrar no Reino de Deus” (At 14,22). A grande novidade nestes cânticos é que começa a surgir a ideia de um sofrimento e de uma provação que se tornam bênção, luz e salvação para uma multidão! Esta é uma ideia nova nas Escrituras de Israel e chegou ao máximo no quarto cântico do Servo, como veremos adiante!
5. Que dizer mais? Releia o cântico todo, pensando em Jesus: “Assim, meus santos irmãos e companheiros de vocação celestial, considerai atentamente a Jesus, o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa profissão de fé!” (Hb 3,1). Compare estes vv. 6-9 com Lc 4,18s. Agora leia Is 49,8-12: aí está toda a bênção, toda a graça, toda a Vida trazidas pelo Servo, graças à Sua fidelidade, ao Seu sofrimento até a morte!
Agora louve e bendiga a Deus pelo Seu Servo, com Israel e com as Escrituras. Reze Is 49,13-26! Atenção: aqui é o Antigo Israel e a Igreja, Novo Israel, que cantam e cantarão sempre o fruto da obra de salvação pelo sofrimento do Servo fiel! Este cântico durará para sempre, até o Dia de Cristo, na Glória! Cante você também!
Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares
Fonte: Visão Cristã