Meditação XXX: Um Reino pelos séculos dos séculos
Reze o Salmo 119/118,57-64
Leia e reze ainda, como lectio divina, Tb 13.
1. Ainda no rastro da última meditação: Se Deus é Rei, se o Senhor nosso Jesus Cristo, com Sua Pessoa, Sua missão, Sua Páscoa de dor e glória, trouxe o Reinado de Deus a este mundo na força potente do Espírito, então, aquele que se abre para acolher esse Reino bendito, nunca teme, nunca se desespera. Isto não quer dizer que o cristão está isento das dores e reveses da vida. Não! “Não peço que os tires do mundo” (Jo 17,15) – disse Jesus! Mas, abrindo-nos ao Reino, tendo o Reino no nosso coração, seremos guardados do Maligno, como o Salvador pediu para nós. E são do Maligno, do Príncipe deste mundo, toda descrença, todo desespero, toda amargura, toda autossuficiência, todo fechamento para a presença de Deus e Sua ação neste mundo. Então: nunca temamos, nunca percamos a esperança: “há um Deus nos Céus” (Dn 2,28),“há um Trono e, no Trono, Alguém sentado” (Ap 4,2), há um Cordeiro imolado que venceu e está de pé (cf. Ap 5,6) com um livro que traz em suas páginas todos os acontecimentos, sorrisos e prantos da nossa história (cf. Ap 5,6-10)! Deus reina! Tudo está nas benditas mãos do Senhor! Nem mesmo a Morte e o Abismo escapam das Suas mãos (cf. Ap 1,17b-18): “É Ele quem castiga e tem piedade, faz descer às profundezas dos infernos e retira da grande Perdição: nada escapa da Sua mão!” (Tb 13,2) Deixemos o Reino entrar na nossa vida e impregnar a nossa existência! Teremos, então, um modo diferente, divino, de viver, de ver, de agir e reagir! Aí, então, o Reino de Deus em nós – Reino do Pai e do Filho e do Espírito Santo: Reino do Pai pelo Filho no Espírito Santo! – será também Reino nosso, que somos os Santos de Deus! Sim! O Reino de Deus será o nosso reinado quando nos deixarmos tomar totalmente pelo Deus uno e trino reinando em nós: será o Reino dos Santos de Deus! (cf. Dn 7,18.22; 1Pd 2,5.9)
2. Abertos ao Reino, neste mundo seremos uma alternativa: não ideológica, não sociológica, não técnica, não segundo as coordenadas mundanas, mas na perspectiva de Deus: seremos sal num mundo insípido e sem verdadeira esperança, seremos luz nas trevas de um mundo fechado em si mesmo, na sua prepotência, na sua autossuficiência. Não teremos soluções técnicas para o mundo, não ficaremos nos metendo em todos os assuntos seculares, dando em tudo nossa opinião, como se este fosse o nosso serviço e o nosso dever, como se tivéssemos as soluções, mas teremos sim, aquela atitude, aquela palavra, aquela doçura, aquela humildade, aquele recato que vêm de Deus e iluminam e portam paz! Leia Mt 5,13-16. Leia também, rezando, Is 60,1-11; Ap 21,9-27.
3. Agora, guiado pelo Espírito, louve e adore o Cordeiro, o Filho eterno do Pai, rezando Ap 5,9-14. Bendito o Reino do Pai e do Filho e do Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre, e por todos os séculos dos séculos. Amém! Bendito seja o Reino do Deus uno e trino! Bendito seja em nós e no mundo, no nosso coração e no coração do mundo! Amém!
4. Releia, agora, os vv. 3-4. Tobit recorda Israel espalhado pelo mundo, na Diápora… Em 722 aC, as tribos do antigo Reino de Israel, ao norte da Terra Santa, foram levadas embora pelos assírios e espalhadas pelo seu império… Tobit e sua família estavam entre os desterrados. Depois, em 587 aC, foi a vez do Reino de Judá, ao sul: os babilônios deportaram os judaítas. Desde esta época, a maioria dos filhos de Israel vive, até os nossos dias, espalhada pelo mundo, distante da Terra Santa, distante de Jerusalém, distante do Templo. Por que o Senhor permitiu a Diáspora do Seu Povo? Releia Tb 13,3s. Israel não existe para si, não vive para si! A tragédia da sua Diáspora, quando perdeu tudo, misteriosamente, seria também uma bênção para a humanidade: os judeus dariam testemunho do verdadeiro Deus entre as nações; entre os povos, rezariam pela humanidade. Como é misteriosa a providência divina! Como Deus sabe tirar do mal o bem e fazer na maior escuridão brilhar a luz (cf. Sl 139/138,11-12)! Leia ainda Tb 13,7s.
5. Agora, leia At 8,1-4. Veja como os cristãos, duramente perseguidos em Jerusalém, fugiram entre dores e lágrimas. Quanta dor, quantas perguntas, quanto sofrimento, quantas famílias tendo que fugir, quantas pessoas fisicamente agredidas e até mortas… Os discípulos de Cristo Senhor, nesta perseguição, foram obrigados a se espalhar pelas várias regiões e, espalhando-se, levaram o Evangelho e testemunharam Jesus nosso Senhor. Assim, da dolorosa e absurda perseguição, nasceu a Igreja mais fecunda e dinâmica da antiguidade: a de Antioquia. Leia At 11,19-26. Dali sairiam Barnabé e Paulo para a missão! É impressionante! Deus não muda! Ele guia os acontecimentos!
Pense na sua vida! Você sabe realmente confiar no Senhor? Sabe esperar Nele? Confia que Ele tem tudo nas Suas mãos benditas? Nas situações de incerteza, dor e escuridão, você sabe bendizer a Deus, sabe ser testemunha do Seu amor?
6. Vamos adiante… Nós, a Igreja, somos os Novo Israel, o “Israel de Deus” (Gl 6,16). Somos hoje, como Igreja, o que Tobit diz de Israel: dispersos no meio das nações. Leia 1Pd 1,1s. Neste mundo, somos estrangeiros da Dispersão: “Igreja dispersa pelo mundo inteiro”– era assim que dizia de modo belo o Missal Romano na sua versão interior a esta, atual! Estamos no mundo, caminhamos com a humanidade, compartilhando so bons e maus momentos, as alegrias, tristezas, desafios e esperanças. Mas, somos um Povo diferente: sabemos que estamos a caminho, que, neste mundo, somos estrangeiros; nossa Pátria verdadeira, perene e definitiva, é o Céu, na plenitude do Reino. Leia Hb 13,14 e 2Cor 5,6-7. Neste mundo, “diante das nações”, dispersos entre elas (cf. v. 3), devemos ser um Povo de testemunhas (cf. v. 4) e um Povo sacerdotal, que louva e adora a Deus em nome das nações pagãs e testemunha diante delas o Nome do Senhor (cf. vv. 4.11), sendo sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5,13-16), sendo o bom fermento do Reino que leveda toda a imensa massa da humanidade (cf. Mt 13, 33). Mas, atenção: somente seremos tudo isto se nossas raízes estiverem em Cristo, se nossa certeza provir Dele, se nosso anúncio for sobre Ele, se a contribuição que dermos ao mundo for nada mais nada menos que o próprio Jesus nosso Senhor! Devemos vencer a tentação de ser um Povo que procura agradar ao mundo; devemos vencer a tendência atual de sermos simpáticos, úteis, bonzinhos, modernos. É Cristo o nosso compromisso, é Cristo a nossa identidade, é Cristo a Quem servimos, é Cristo que temos para dar ao mundo como Salvação, Luz e Vida! (cf. 1Cor 3,11) Nosso dever é enorme, nossa missão é tremenda! Mas, não temamos, porque o Senhor está conosco: no meio dos candelabros, que são as Igrejas diocesanas com seus anjos, os Bispos, (cf. Ap 1,12s.20) caminha o Senhor, Cordeiro imolado e ressuscitado, vencedor do pecado e da Morte (cf. Ap 5,6; 1,17s)! Reze o Sl 46/45
Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares
Fonte: Visão Cristã