Palmares, 23 de novembro de 2024

Homilia para XII Domingo Comum – ano C – Dom Henrique Soares da Costa

22 de junho de 2019   .    Visualizações: 1390   .    Homilias

Zc 12,10-11;13,1

Sl 62

Gl 3,26-29

Lc 9,18-24

A Palavra que hoje escutamos coloca-nos diante da questão fundamental de nossa fé: quem é Jesus de Nazaré?

Sejamos espertos; estejamos atentos a um detalhe importantíssimo: Jesus, nosso Senhor, distingue a pergunta sobre a opinião do mundo daquela outra, que realmente importa: a pergunta sobre a fé dos discípulos.

“Quem diz o povo que Eu sou?” E as opiniões são humanas e, portanto, incompletas, parciais, superficiais e até mesmo errôneas, por vezes, absurdas: “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou”. Ainda hoje é assim: o mundo não poderá jamais compreender Jesus Cristo em Sua profundidade e verdade última. Uns acham-no um sábio; outros, um iluminado, ou um filósofo, ou um humanista, ou um revolucionário romântico, do tipo Che Guevara, ou um embusteiro, ou um louco; outros acham-no, sinceramente um alienado ou um falso profeta… Em geral, o mundo atual, vê-Lo quase como um mito, bonzinho, romântico, mas sem muita serventia prática…

Mas, Jesus, nosso Senhor, pergunta aos discípulos, pergunta a nós: “E vós, quem dizeis que Eu sou?” A resposta de Pedro é perfeita, é completa: “Tu és o Cristo, o Ungido, o Messias de Deus”. Esta resposta não veio da lógica humana, da inteligência ou da esperteza de Pedro. Em Mateus, Jesus afirma-o claramente: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne ou sangue que te revelaram isso, e sim o Meu Pai que está nos Céus” (Mt 16,17). A afirmação do Senhor é clara, direta e gravíssima: carne e sangue, isto é, a só inteligência humana, a humana razão e perspicácia, não podem alcançar quem é Jesus! Somente na revelação do Pai, isto é, somente na experiência da fé da Igreja, iluminada e sustentada pelo Espírito do Cristo, nós podemos ter acesso ao mistério de Senhor Jesus, à Sua realidade profunda. Portanto, não nos deve surpreender se o mundo tem dificuldade de crer realmente, de aceitar seriamente o Cristo e as exigências do Seu Evangelho!

Atenção! Com toda a sinceridade e franqueza, não devemos nos importar muito com o que as revistas e as ciências (história, sociologia, antropologia…) dizem a respeito de Jesus Cristo. Elas, por vezes, podem até fazer algumas observações interessantes, mas de modo algum conseguem penetrar no núcleo do Seu mistério; ficam sempre no limiar, na soleira. Jamais a fé de um cristão irá basear-se em dados científicos! Isto seria uma tola e óbvia armadilha!

Então, é na escuta fiel e devota da Palavra, na oração pessoal, na vida da comunidade eclesial, no empenho sincero e sacrificado de viver o Evangelho com suas exigências e, sobretudo, na celebração dos santos Mistérios que podemos fazer uma experiência autêntica de Quem é Jesus, o Cristo do Pai. Não cremos simplesmente no Jesus de Nazaré que a ciência ou a história podem apreender; cremos no Cristo Senhor crido, adorado, experimentado e anunciado pela Igreja, a partir do testemunho dos apóstolos; testemunho que lhes custou a própria vida!

Mas, tem mais ainda! O núcleo do mistério de Cristo é o mistério de Sua Cruz. Observe-se bem: assim que Pedro afirma que Jesus é o Messias, Ele pontua, precisa, esclarece que tipo de Messias Ele é: O Filho do homem deve sofrer muito, ser rejeitado… deve ser morto e ressuscitar ao terceiro dia”. Eis! Somente na Cruz o discípulo pode reconhecer em profundidade o seu Senhor. Mas, a Cruz não é um teoria; é uma realidade em nossa vida e na vida do mundo: a cruz da solidão, do fracasso, da doença, das lágrimas, da pobreza, da morte… Somente quando abraçamos na nossa cruz a Cruz de Cristo, podemos, então, compreendê-Lo: “Se alguém Me quer seguir, quer ser Meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-Me!”

Fora da cruz, fora do seguimento de Cristo até o fim, não há verdadeiro conhecimento do Senhor, não há a mínima possibilidade de uma verdadeira comunhão com Ele. São Paulo nos emociona, quando afirmou: “O que era para mim lucro eu o tive como perda, por amor de Cristo. Mais ainda: tudo eu considero perda, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por Ele, eu perdi tudo e tudo tenho como esterco, para ganhar a Cristo e ser achado Nele, para conhecê-Lo, conhecer o poder da Sua Ressurreição e a participação nos Seus sofrimentos, conformando-me com Ele na Sua Morte, para ver se alcanço a ressurreição” (Fl 3,7-11). É preciso que rejeitemos claramente um cristianismo bonzinho, almofadinha, burguês, bem comportadinho, que agrade ao mundo e com ele procure um diálogo irenista e superficial!

O cristianismo é radical, é escandaloso, na sua essência, é incompreensível ao mundo “A linguagem da Cruz é loucura para aqueles que se perdem!” (1Cor 1,18) – Será que não andamos meio esquecidos disso? E, no entanto, “para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus” (1Cor 1,19). Na fé, contemplamos a Cruz do Senhor, tão dura para Ele e para nós, e vemos nela a fonte de purificação e de Vida de que fala a primeira leitura da Missa de hoje. Do Coração amoroso e ferido do Cristo, brota a Vida do mundo e o sentido último da nossa existência. As palavras são impressionantes: “Derramarei um Espírito de graça e de oração… Eles olharão para Mim. Quanto ao que traspassaram, haverão de chorá-Lo, como se chora a perda de um filho único, e hão de sentir por Ele o que se sente pela morte de um primogênito. Naquele dia, haverá uma fonte acessível para a ablução e a purificação”. Compreedamos, não duvidemos: a fonte é o lado aberto do Cristo, o Seu Coração traspassado; é Ele o Filho único, o Traspassado, o Primogênito. Dessa Fonte bendita jorram os Sacramentos da Igreja, pelos quais nos é dado o Santo Espírito do Senhor, Ele que vem “pela água e pelo sangue” (1Jo 5,6)!

Eis o escândalo: não cremos nas soluções e modismos e alarmismos humanos, não cremos que a globalização trará a salvação, não cremos que a ciência salve o ser humano dos demônios e monstros do seu coração, não cremos que a tecnologia nos faça mais felizes, não cremos que o esporte traga a paz universal ou seja vida, não esperamos que o prazer e o poder nos saciem o coração! Não somos idólatras para a perdição! Cremos que Jesus é o Cristo; cremos que pela Sua Encarnação, Cruz e Ressurreição Ele nos deu uma Vida nova, uma torrente de Vida na potência do Seu Espírito Santo. Cremos que Jesus é a nossa Verdade, o nosso Caminho e o sentido último da realidade. Por isso Nele fomos batizados, Dele nos alimentamos e Nele queremos viver.

Quando levarmos isto a sério, seremos cristãos e iluminaremos o mundo. Que o Senhor no-lo conceda por Sua misericórdia. Amém.

Dom Henrique Soares da Costa

Bispo de Palmares

Fonte:https://visaocristadomhenrique.blogspot.com/2019/06/homilia-para-o-xii-domingo-comum-ano-c.html?m=1