Palmares, 29 de março de 2024

Retiro Quaresmal 2020/37 “Felizes os que se abrigam no Senhor!” (Sl 2,12)

08 de abril de 2020   .    Visualizações: 514   .    Palavra do Bispo

Quarta-feira Santa

Meditação XXXVI: O Discípulo obediente e forte

Reze o Salmo 119/105-112

Agora, medite e reze Is 50,4-11, tendo diante dos olhos Jesus Cristo, o Senhor.

1. Este é o terceiro dos quatro cânticos do Servo Sofredor…  É o Servo Quem fala… Logo no início, no v. 4, uma afirmação surpreendente! O Servo afirma que o Senhor Lhe deu uma “língua de discípulo”. Discípulo é o que aprende, o que escuta, todo aberto ao que o mestre fala. O surpreendente aqui é que não diz que o Senhor deu um ouvido ou um coração de discípulo, mas uma língua! Em outras palavras: tudo quanto o Servo diz é porque assim ouviu do Senhor, do Santo de Israel! Como não pensar no nosso Salvador, que tantas vezes insistiu: “Minha doutrina não é Minha: Eu digo como o Pai Me ordenou! Meu alimento é fazer a vontade do Pai!”(cf. Jo 7,17; 12,49s). Assim, o Servo; assim Jesus nosso Senhor: totalmente aberto, totalmente disponível, totalmente pobre ante a vontade santíssima do Pai! Pense nisto… Pergunte ao seu próprio coração: você tem tido ouvidos abertos à vontade do Senhor Deus? Procura converter-se a vontade do Senhor ou, ao invés, com desculpas esfarrapadas, faz sempre a sua própria vontade? Leia Hb 10,5-7.

2. Jesus, nosso Senhor, nunca tomou ares de astro, de “pop star”! Não: tudo Nele remetia ao Pai. Era o Pai que importava, era a vontade do Pai, a glória do Pai, o interesse do Pai, o Reino do Pai que realmente contavam! E esta atitude do nosso Salvador foi a atitude fundamental de toda a Sua existência na nossa carne: “De manhã em manhã Ele Me desperta, sim, desperta o Meu ouvido para que Eu ouça como os discípulos!” (v. 4). O Senhor Jesus foi grande, foi livre precisamente porque nunca procurou Sua própria glória, Sua própria vontade, Seu próprio interesse, mas somente a vontade do Pai: “Eu vim, ó Deus, para fazer a Tua vontade!” Por isso mesmo, Ele teve que aprender a obedecer, conforme diz a própria Escritura (cf. Hb 5,8). E isto custou; foi um duro aprendizado, com as dolorosas circunstâncias da vida: a cada manhã, a cada nova ocasião, o Pai Lhe foi abrindo os ouvidos! Que mistério, este da obediência amorosa do Filho, do ajustamento contínuo da Sua vontade humana à vontade do Pai! Obediência por amor, obediência no amor, obediência que levou ao derramamento do próprio sangue! Por isso mesmo, pela Sua santíssima obediência, Seu ministério foi fecundo e tornou-se consolo, salvação e libertação para nós e para o mundo inteiro: “para que Eu soubesse trazer ao cansado uma palavra de conforto” (v. 4). Eis: foi para a nossa salvação, para nosso conforto no Coração do Santo de Israel que o Filho Se submeteu!

Adoremos este mistério! Imitemos o que adoramos! Recebamos a graça do que imitamos no concreto da nossa vida! Unido a Jesus nosso Senhor, reze o Salmo 40/39.

3. Agora, os tremendos vv. 5s… É caro, sempre foi, o preço da fidelidade, da obediência ao Senhor! Porque o Servo foi fiel, porque não recuou diante da missão que o Santo Lhe dera, teve como recompensa a rejeição, os flagelos, a abjeção e a ignomínia, a incompreensão e a solidão moral! Como não pensar em Jesus, o Servo Sofredor, inocente, manso e fiel ao Pai? Ainda hoje, todo aquele que Lhe quiser ser fiel, tem um preço a pagar, às vezes dentro da Sua própria Igreja (cf. Mt 10,34-36)! O preço que se paga pode ser a incompreensão, a solidão moral e afetiva, o velado desprezo dos demais, a crítica e a zombaria sob a capa de piedade e zelo pastoral… E tudo isto por parte dos próprios irmãos na fé… Leia e reze, pensando em Jesus nosso Senhor, rejeitado pelo Seu Povo, pensando nos que sofrem pela fidelidade ao Senhor e ao Seu Evangelho, Jr 15,10-11.15-18: aí, o Profeta aparece em crise, querendo mesmo deixar sua missão… Deus o responde repreendendo-o e exortando-o a deixar de lado o que é vil, o que é menos importante, indo adiante no essencial da sua missão… Leia Jr 15,19-21!

4. Leia agora os vv. 7-9… Impressionante, surpreendente! O Servo, mesmo sofrido, homem de dores, maltratado, flagelado, tem uma atitude triunfal! Loucura? Insanidade? Falta de realismo? Alienação maluca, provocada por alucinação e idiotice religiosa? Não! Capacidade de ver e avaliar com os olhos da fé, na perspectiva de Deus! Força, segurança, certeza fundada Naquele que é o Deus fiel, o Santo de Israel! “O Senhor virá em Meu socorro! O Senhor defenderá a Minha causa! Ainda que todos Me condenem, se o Senhor Me absolver, se Ele estiver ao Meu lado, por que temer? Por que vacilar? Por que duvidar do caminho que escolhi e para o qual fui escolhido?” Observe, no Servo, a profunda convicção do triunfo e da permanência em Deus por parte daquele que a Ele se confia e, por outro lado, a ilusão, a fugacidade, daqueles que se voltam contra o Senhor e Seu Servo. Pense no contraste entre a Sexta-feira e o Sábado Santo, por um lado, e o Domingo da Ressurreição, por outro! – Senhor, os que Te esperam não perecem, não se apagam na sua existência, mas brilham como o sol ao amanhecer! “Eu tranquilo vou deitar-Me e na paz logo adormeço, pois só Vós, ó Senhor Deus, dais segurança à minha vida!” (Sl 4). Você tem realmente confiado no Senhor?

5. Agora, leia os vv. 10s. O cântico termina com uma exortação que é também um desafio: Quem crê realmente no Deus de Israel? Quem é discípulo desse Servo feito trapo humano, homem de dores? Pois bem: que mesmo nas trevas da vida, o discípulo do Servo coloque, como o Mestre, a sua confiança no Senhor, Nele tome arrimo, Nele alicerce a sua vida! Que consolo, que exortação impressionante: venha o que vier na vida, estejamos na treva mais densa, se fixarmos os olhos nesse Servo bendito, se unirmos nosso coração ao Dele, não perderemos o rumo, não seremos tragados pelas ondas da morte e chegaremos nos braços do Deus Santo, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Mas, quanto aos que, de modo autossuficiente, fazem pouco do Santo de Israel e do Seu Servo, serão consumidos como palha inútil no próprio fogo de sua descrença e rebeldia de uma vida sem sentido, sem consistência e sem rumo. Pense nisto, meu Irmão! Pense nisto! Tome arrimo no Senhor, siga o Servo, Jesus nosso Senhor, e nada o derrubará, nada irá tirar o sentido da sua existência e o prumo da sua vida!

6. Louvando e bendizendo o Senhor que é fiel, reze, contemplando, Is 51,12-16…

Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares


Fonte: Visão Cristã